sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Batalha Espiritual

Batalha Espiritual Lição I A Força do Cristão (Efésios 1:3-14) O que é ser cristão? a) Alguém que é escolhido pelo “Pai”. (vs. 4) Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele, e em amor nos predestinou para ele, para adoção de filhos. b) Alguém que foi redimido pelo Filho. (vs. 7) “no qual temos a redenção, pelo sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,”. c) Alguém que foi selado com o Espírito Santo (vs. 13) “ em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa”. No período bíblico, o selo tinha três funções: → 1º Declarar propriedade → 2º Dar segurança → 3º Garantir autoridade (da mensagem) A promessa de que ninguém nos arrebatará da mão do Pai (Jo 10:28) “Eu lhes dou a vida eterna, jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.” “Pois todos o que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.” (Rm 8:14) Como podemos ser fortes no Senhor? (Ef 6:10) “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” Como adquirimos força física? Alimentado bem, fazendo exercícios. Adquirimos força espiritual pelo mesmo principio, alimentado da palavra de Deus, exercitando na fé e piedade. (Jo 4:34) “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar sua obra.” Adquirimos força obedecendo ao Senhor a) Obedecemos da Igreja (Ef 4:14) “Para que não sejamos como meninos agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vendo de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” b) Obedecemos no Lar (Ef6:1-2) “Filhos obedeceis a vossos pais no Senhor, pois isto é justo.” “Honra teu pai e tua mãe” (que é o primeiro mandamento como promessa). c) Obediência no trabalho (Ef 6:6-7). “Não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração a vontade de Deus.” Empecilho à Obediência Cristã Quanto ao mais (Ef 6:10) Satanás irá fazer oposição a nossa obediência e lealdade ao Senhor. (I Co 10:23) “ Não vos sobreveio tentação que não fosse humana, mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças.” (Ef 6:13) “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau”. Vencendo pela Obediência Se você quiser ser forte no Senhor tem que praticar a obediência. a) combata deus pecados mais b) não se conforme com este mundo c) seja fiel e permaneça nos caminhos do Senhor Há apenas um caminho que nos conduz a uma vida eterna, se você quiser ser forte, tem que assumir um compromisso de lealdade e dedicação ao caminho estabelecido por Deus. (Jo 14:6) “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai se não por mim.”. Lição II O poder para ser forte (Efésios 6:10) * História de um atleta, dedicação e preparo físico e mental. Nossa vida espiritual apostolo Paulo compara a uma comida (I Co 9:24-25) “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm mas um só leva o prêmio?[...] ”. “Todo atleta em tudo se domina: aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém a incorruptível.” (vs. 25) A partir da salvação, temos o desejo de trinar e buscar forças para que nossa vida com Deus seja vitoriosa. Mas onde buscar forças? “Sede fortalecidos no Senhor e na força do seu Poder”. Precisamos nos esforçar para sermos semelhantes a Jesus. Preparando Para Ser Forte É preciso haver harmonia entre nossa vida física e espiritual. A vida cristã não se limita a um conjunto de códigos morais. Vemos um Jesus condenando e excluindo de sua presença pessoas que fizeram coisas boas, seguiram a moral e a ética e até usaram o seu nome em muitas dessas ações. (Mt 7:21-23) Nem todos que dizem: Senhor! Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céu, muitos naquele dia, hão de dizer: Senhor! Senhor! Porventura, não temos profetizado em seu nome, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente nunca os conheci. Que tipo de poder é esse? Poder de falar em línguas estranhas? Poder de revelar, profetizar os mistérios? Nenhum dom e superior ao dom do amor (I Co13:1-3) → 1º Poder de transformar a vida. (Ef 2:10) somos feitura dele, criados em Cristo Jesus. → 2º Poder que fortalece a vida interior. (Ef 3:16) “[...] vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante seu Espírito no homem interior.” → 3º Poder para vencer tentações. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como nécios, e sim como sábios. ” - A força do Espírito de Deus em nós nos capacitará para resistirmos as tentações. Jesus nos ensina: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Lição III Armadura de Deus (Efésios 6:11) Analisamos a exortação feita por Paulo aos seus irmãos de Éfeso, quanto à batalha espiritual. Para aquele que sabe o que é ser cristão, sede fortalecidos no Senhor e na força de seu poder. “Revesti-vos de toda armadura de Deus.” → 1º Porque revestir de toda a armadura de Deus? No campo natural ninguém gosta de falar em guerra, todos preferem à paz, buscamos um acordo. Em batalha espiritual não é assim, estamos em luta intensa contra as trevas e não possível haver acordos. A partir do momento em que você abraça a fé de Cristo, entra automaticamente para a batalha. Por isso precisamos de toda a armadura de Deus. → 2º Porque a ordem de revestir de toda armadura? (em segundo lugar) Somente um cristão verdadeiro e fortalecido no Senhor e na força do seu poder usa a armadura de Deus. Em Atos 19:13 temos o exemplo de 7 filhos de um sumo Sacerdote chamado Ceva que tentaram expulsar demônios sem serem Cristãos. Tentaram usar a armadura de Deus sem serem fortalecidos no Senhor. → 3° Pessoas que querem usar armaduras humanas Armadura da moralidade - Ela é barata e politicamente correta. Armadura da conveniência pessoal - cada parte dessa armadura tem hora e lugar para ser usada. Essa armadura não protege ninguém, não pense que você pode agir conforme a sua conveniência e ainda vencer as ciladas do inimigo. Armadura da religião morte - Essa é a mais usada e a mais difícil de ser identificada. Ela é furada (vs. 11 – não te livrará das ciladas do diabo...). Lição IV As Ciladas do Diabo (Efésios 6:11b) Vs. 11 – “Revesti-vos de toda armadura de Deus, para que possais ficar firmes contra as ciladas do diabo”. “Para que possais ficar firmes contra as ciladas do diabo” Precisamos estudar o adversário para compreender suas estratégias e artimanhas. → 1º Satanás é muito estatuto e conhece a hora certa de agir. Ele pode agir diante de um sucesso, (2Samuel 11: 2-4) – no caso de Davi. → 2º A pessoa certa é menos provável. Quando andamos em má companhia ou freqüentamos lugares que visivelmente, não são apropriados a cristãos, estamos dando lugar para que o diabo atue. Ele pode usar pessoas próximas que conhecem a Bíblia. Foi assim com Cristo por ocasião da crucificação, em que pessoas que conheciam a Bíblia e sabiam da vinda do messias não o aceitaram e o mataram. → 3º Satanás usa a mente cauterizada. Seu objetivo é fazer com que o pecado deixe de ser tratado seriamente, a mentira passe a ser verdade e o erro um estilo de vida. 2Timóteo 4:1-2 – “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios.”. Pela hipocrisia dos que falam mentiras e que tem cauterizada a própria consciência. → 4º Os propósitos das ciladas: - diabo é o inimigo de nossas almas. Oposição a Deus: Seu objetivo é cegar este mundo para a bondade e o amor de Deus. Oposição à igreja de Cristo: O diabo odeia a igreja. Oposição a cada cristão: O diabo quer tirar de nós a salvação. Não podemos menosprezar aquele que ousou enfrentar o próprio Cristo. Assim, que a verdade cinja nossa cintura, que a justiça cubra nosso coração, que a salvação ocupe a nossa mente, que o evangelho da paz guie nossos pés. Lição V Conflito com as Trevas (Efésios 6:12) “Porque a nossa luta não é contra sangue e a carne e sim contra principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais.” → Contra os principados – Príncipes → Contra as potestades – Governantes (Reis) → Contra os dominadores deste mundo – (Territoriais) → Contra as forças espirituais do mal – (domésticos e hereditários). “Nas Regiões Celestiais” Se nossa luta não é contra homens (não é natural) ela é espiritual (nas regiões celestiais). Preparo pessoal – é importante (conhecendo-nos a nós mesmos) Ter conhecimento de como se dará essa batalha e qual será o nível do conflito. Caso contrário, seremos como soldados indo à guerra sem nunca ter empunhado uma arma ou espada antes. A Natureza Humana O homem foi feito a imagem e semelhança de Deus (Gn. 1:26), mas o pecado manchou a perfeita criação de forma que herdamos uma natureza decaída e pecaminosa. Pela nossa natureza decaída, nos tornamos mais frágeis do que éramos antes do pecado. Quando somos tolerantes com o pecado, nossas defesas da personalidade entram em conflito. Quanto mais oportunidades damos ao inimigo, mais forte fica o pecado em nossa vida. (Efésios 2:1-3) Quando pregamos o evangelho a alguém, quando evangelizamos, lutamos contra o príncipe da potestade do ar. Em cada homem, nas trevas do mundo, age pelo menos um espírito (que atua nos filhos da desobediência). O Novo Homem Segundo Deus (Ele vos deu vida) (Efésios 2:1) Agora a história é outra, temos a vida de Cristo em nós que é a arma mais poderosa pra vencer qualquer cilada. Despojamos-nos de toda imundícia da natureza decaída, renovamos nossa compreensão da vida, e nos revestimos do novo homem. (Efésios 4:21-24) Quando temos o real conhecimento sobre nós, sigamos ao seguinte resultado (Salmos 103:14) Pois Ele conhece a nossa estrutura e sabes que somos pó. A luta da igreja contra 1/3 dos anjos do céu caídos, que atuam nos filhos da desobediência. Jesus disse que o príncipe deste mundo é o diabo (João 14:30) O mundo adora o diabo. Ap 13:4 “e adoravam o dragão não necessariamente em um altar, mas por meios do orgulho, da vaidade e da cobiça que imperavam em suas vidas”. Contra Principados (potestades) (dominadores) Lc 11:21 Apontado como valente e como o leão – 1Pedro 5:8, apontado como o dragão e serpente – Ap.12:9, apontado como deus deste século – 1Co 4:4. Lutamos Contra as Trevas: Escuridão Os homens amaram mais as travas do que a luz: porque suas obras eram más (Jo 3:19). A escuridão abre as portas para a prática do mal, É a noite que os ladrões costumam agir, pois estão encobertos pelas trevas. As trevas não permitem que conheçam a Deus, como se estivessem com a visão e a mente tampada para a luz de Deus. O ser humano que vive nas trevas não consegue, por si só, voltar-se para o Senhor, mesmo que o quisesse fazer, não acharia o caminho sem orientação do Espírito Santo. “Conhecereis a verdade e a verdade os libertará” Jo 8:32 Você já foi liberto do império das trevas e transportado para o Reino do Filho de Deus? Lição VI Cinto da Verdade (Efésios 6:14) Estamos exatamente nessa fase do nosso estudo. Já vimos a necessidade de estarmos fortes no Senhor e como isso se dá. Já estudamos a maneira como o diabo age e como acontece o conflito espiritual, e também o que é a armadura de Deus. Agora estamos preparados para revesti-la e fazer bom proveito dela. A ordem que nos é dada é para que possamos cingir-nos com o cinto da verdade. Embora seja esse o alvo da maioria das pessoas buscarem a verdade, ela não é fácil de ser ouvida sendo ela a verdade relativa pode ser até conveniente. Como por exemplo: Crer na reencarnação: essa idéia pode aliviar o peso da responsabilidade de quem vive no pecado, e crendo nessa realidade relativa imagina poder voltar novamente em um outro corpo para fazer aquilo que deveria fazer agora! Ser devoto de santos mortos também é uma forma relativa de uma verdade contaminada vivida pelo homem cego espiritual. Uma imagem de escultura de um santo morto não confrontará jamais seu devoto com a verdade absoluta principalmente ser der a ele uma vela, uma flor ou até mesmo uma pinga de vez em quando. Mas conviver com a palavra da verdade e por ela ser confrontado pode a principio não ser agradável. Ter a consciência Do seu adultério, prostituição, idolatria, egoísmo, vaidade, hipocrisia, que você é um dependente químico que não vive sem a cerveja vossa do fim de semana, pouquinho só um copo, ou uma latinha pra descontrair, se você usa o álcool pra relaxar, com certeza você já é viciado, e uma pessoa viciada em álcool é um alcoólatra e uma boa verdade essa. Está disposto a assumir essa realidade é relativo não é? Obsoleto é que você seja julgado por suas ações e por elas condenado. Estai pois firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade. Precisamos de força Pv. 31:17 “Cinge os lombos de força e fortalece os braços” Precisamos da vontade Nossa mente curada por ação reparadora do Espírito Santo. A partir daí, a confiança é estabilidade virão. A verdade que fortalece a nossa mente Como vimos o cinturão da verdade é a compreensão que temos da palavra de Deus. Assim, ela deve ser aplicada à nossa mente. (Ef 4:14-15) “Para que não sejais como meninos agitados de um lado para outro e levados por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” È mais conveniente viver no pecado do que ser confrontado a concertar e arrepender-se. Todo profeta que confronta o povo com seu pecado não é bem visto. Quatro fundamentos da verdade A Bíblia apresenta quatro fundamentos essenciais da verdade que formam nosso cinturão. → 1º Jesus Cristo (Jo 14:6) “EU sou o caminho a verdade e vida...”. → 2º O Espírito da verdade (Jo 14:17) “O Espírito da verdade... habita conosco e estará em vós.” → 3º A Palavra de Deus (Jo 17:17) “Santifica-os na verdade: a tua palavra e a verdade.” → 4º A igreja do Deus Vivo (1Tm 3:15) “Se eu tardar, fique ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja de Deus vivo, a coluna baluarte da verdade ”. A palavra coluna e baluarte significam pilar, sustentáculo, fundamento. Da mesma forma que Cristo é a pedra fundamental da igreja, esta é pila da verdade de Deus. A sua igreja é pilar da verdade de Deus? Lição VII A Couraça da Justiça (Efésios 6:14b) “Estai, pois, formes, cingindo-vos com toda a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.” Para começar é interessante lembrar a vida de Jó, considerado por Deus como homem reto, íntegro, temente que se desvia do mal (Jó 1:18). Sua vida justa não o impediu de ser tremendamente tentado e perturbado por satanás. Perdeu seus bens, seus servos, sua casa, seus filhos, seus amigos, sua saúde, sua dignidade, mas não perdeu a fé. “Jó estava vestido com a couraça da Justiça.” Outra passagem que também introduziria bem o nosso assunto é a visão do profeta Zacarias, Deus mostra-lhe o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor, e satanás à mão direita para lhe acusar. “Ora, Josué, vestido de trajes sujos, estava diante do anjo. Então falando este, ordenou aos que estavam diante dele: tirai-lhe estes trajes sujos. E a Josué disse: Vê, tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de trajes finos.” (Zc 3:3-4). Como diz Isaias 64:6 – “e todas as nossas justiças, como trapo de imundícia;”. Todos nos apresentamos a Deus, num primeiro instante com vestes sujas, mas o Senhor nos limpa e nos dá condição de permanecermos firmes em sua presença. O que é uma couraça? Couraça é uma malha de ferro que cobre a região do pescoço à cintura. Protege o coração, os pulmões e toda região do estômago. Em uma época o coração era tido como o centro da personalidade e vontade. (Jeremias escreve “Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto: que o conhecerá.”) Jr. 17:9 Jesus disse que de dentro do coração dos homens e que procedem a maus designos. (Mc 7:21). Nossa mente, vontades e emoções devem estar protegidos pela Couraça da Justiça. O que é Justiça como Couraça? a) A Justiça imputada – Quando Deus chamou Abrão ele creu em Deus, isso lhe foi imputado para justiça. (Gn 16:6). Abrão foi justificado porque creu em Deus. Em Rm 5:1 – “Justificados, pois pela fé tomos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. b) A Justiça concedida – o que cobre nosso peito é a justiça concedida, a retidão moral, se a justificação não vier acompanhada de uma retidão moral, seremos como lindas e perfumadas flores plantadas em uma valeta de esgoto, para esconder sua sordidez, o que precisamos agora como couraça é de um caráter justo, uma vida devota e Santa, com atitudes justas. Para com o meu próximo. Há alguns sinais que evidenciam até que ponto estamos vestidos com a couraça da justiça. → 1º confiamos no Senhor como Salvador, não temos justiça própria. → 2º amamos as coisas que o Senhor ama, amamos o que é verdadeiro, o que é respeitável, o que é justo e puro, o que é amável, o que é de boa fama e vitorioso. → 3º odiamos o pecado, nos entristecemos quando magoamos a Deus. Buscamos pala confissão e arrependimento, uma vida santa e um reto proceder. → 4º Temos o prazer e a alegria no Senhor (Ne 8:10) “Porque a alegria do Senhor é a vossa força”. Dois dos dardos mais inflamados do diabo chamam desânimo e depressão, por isso Paulo disse que tenha aprendido a viver contente em todas e qualquer situação. (Fp 4:10-13), Em nossa batalha espiritual recebemos confiança e coragem quando satanás nos acusa, temos a coragem de mantermo-nos em pé, pois a justificação de Deus imputada a nós nos torna justos. Surge em nós o conhecimento de que a justiça de Deus infundida em nós, manifesta-se em atos de amor e fé que glorificam o nome do Senhor. Temos a proteção contra a auto-justificação, renunciando aquela tendência humana e pecaminosa de bater nas próprias costas e dizer: “Eu sou realmente uma boa pessoa”. Lição VIII Calçai os Pés (Efésios 6:15) “Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz;” Diante dos males desse mundo, nós cristãos temos a boa notícia do evangelho. “O arco-íres é mais visível quando o céu está escuro.”. Na Bíblia, a “paz” vem geralmente acompanhada das palavras “verdade” e “justiça”. _ “Ah se tivessem dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um rio e a tua justiça como as águas do mar”. Portanto, sem a verdade e a justiça não há paz. Perca a verdade e perderá a paz. Perca a justiça, e perderá também perderá sua paz. Tenha ambas e não poderá manter a paz de fora. Que mensagem é essa das quais nossos pés devem estar calçados, que nos prepara para o conflito espiritual e nos habilita para a evangelização? Paz com Deus A partir do momento em que tomamos a couraça da justiça e fomos justificados pelo merecimento de Cristo, podemos ter a perfeita Paz com Deus. Rm 5:1. Paz sigo mesmo Essa paz íntima e pessoal não significa que estamos imunes aos problemas, mas sem que temos uma paz de consciência apesar das dificuldades. A vida com Cristo não é uma vida sem problemas, mas uma vida com solução de problemas. Paz com o próximo Perdoamos os outros como a nós mesmos temos sido perdoados. “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” Mt 6:12 Paz com a criação de Deus Olhamos o mundo, com outros olhos, restaurados, as flores, plantas e arvores, pássaros, animais e insetos, as montanhas, os rios o sol, a lua, tudo tem para nós um novo significado. Alegramos-nos em apreciar as obras das mãos de Deus. Tão importante quanto um Cristão preparado e uma boa estratégia, como será o campo onde a batalha será travada, não pode ser um campo cheio de lama, tem que ser um campo sólido para que o soldado possa atacar com golpes firmes. Como o cristão pode estar firme sobre seus pés na luta contra o poder das trevas? _ Quando pisamos no terreno da paz de Cristo conquistado mediante seu sacrifício na cruz, nossos pés ficam firmes para vencer as ciladas do inimigo. Passando para a vida cristã, satanás arma suas ciladas escondendo farpas pontiagudas para que possamos ferir nossos pés, impedindo-nos de caminhar com Jesus. A boa noticia o evangelho da paz, é que Deus reina que o Salvador é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Ele que é o Deus de Paz, nos dá serenidade que excede todo entendimento, guardando o nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus. (Fp 4:7). Lição IX Escudo da fé Efésios 6:16 “tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.” A vida do crente: “abnegação de Paulo” II Co 6:4-7 “Antes como ministro de Deus, recomendamo-nos em tudo: na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açõites, nas prisões, nos tumultos, nas vigílias nos jejuns, na pureza no saber, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus pelas armas da justiça quer defensiva quer ofensiva,...”. I Co 4:12 “Afadigamo-nos, trabalhando com nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos, quando somos perseguidos, suportamos. ” I Co 4:13b “[...] até agora, temos chegado a ser considerado lixo do mundo, escória de todos” Paulo diz: “Escrevo estas cousas para admoestá-los como a filhos. Não para vos envergonhar”. Ao texto de Ef 6:16 – Escudo da Fé O que é este escudo da fé? Para que serve? O que faz? Paulo recomenda que usemos o escudo da fé mais adiante no seu testemunho de grande sofrimento, opressão e dificuldades. Qual era o bem que o escudo da fé proporcionava a ele em tudo isso? E a nós? Vivemos em uma geração que se caracteriza pela acomodação, seu amor pelo bem estar sua aversão e resignação ao suor ou à opressão, muitos estão mal acostumados. Achamos que Deus tem que atender nossas orações depressa. Precisamos nos convencer que os caminhos de Deus não são nossos caminhos, e que Seus pensamentos não são os nossos pensamentos. Cristo nos chama a tomar a cruz antes de oferecer uma coroa. O que buscamos na realidade é uma varinha mágica que faz desaparecer nossos problemas. Os dardos inflamados do diabo não são lançados sobre nós o tempo todo. Há dias maus, há ocasiões em nossas em que passamos momentos de provação. Não há duvida de que Paulo está falando do diabo. Mas e os dardos quais são? Um dardo pode ser o da dúvida. Existe mesmo um Deus? Será que realmente somos crentes? Começamos a colocar os “serás” e a perder a fé. Outro dardo são os pensamentos perturbados. Se você se concentrar em suas férias, plano para feriado, namorada, ou no carro novo que você quer comprar você não terá dificuldades nenhuma, mas comece a orar e você verá como seu pensamento vagueará. Outro exemplo: você consegue ficar duas horas na frente da televisão assistindo um filme, horas diante do computados, pode até ler um livro de romance em poucas horas, mas pegue na Bíblia e imediatamente uma flecha será disparada contra você por meio de uma idéia que afastará você desse projeto. Os dardos podem ser: tentação, distrações depressão, desespero, duvidar, desânimo. Como usar o escudo da fé? Discernir o que é de Deus e o que não é. Saber o objetivo ou o alvo da fé. Exercitar a fé. Lição X Capacete da Salvação Efésios 6:17a “Tomai também o capacete da Salvação” A cabeça é a principal e mais frágil parte do corpo. O apostolo Paulo depois de apontar vários equipamentos para o soldado cristão e diz tomais o capacete de salvação, proteção para a cabeça, nos tempos bíblicos a cabeça era imaginado como sendo a fonte da vida de certo modo eles estavam certos, porque hoje aprendemos uma nova expressão “morte cerebral” mesmos estando todos os órgãos perfeitamente intactos o cérebro parando de funcionar, a vida extinguiu. Uma vez que o cérebro esteja morto, então o corpo está efetivamente morto. Em Mc 6:24 Herodias pediu a cabeça de João Batista, ela pediu a vida de João Batista. Em Jo 19:30 “e, inclinando a cabeça, rendei o espírito,” isso quer dizer que o Senhor morreu. Depois que tomamos o capacete da salvação e colocamos na cabeça, em que estamos pensando? Pensamos em vida, salvação? Pensamos nos problemas de nossa vida? Pensamos que nossa cabeça está protegida? Pensamos que o inimigo não nos tocará? Pensamos em nossa motivação para a vida, para o trabalho, para a fé. Alguma coisa que nos dê ânimo, coragem, força, vida ou motivo pra viver. Salmos 24: “Levantai, ó portas as vossas cabeças”. Paulo faz outra alusão ao capacete em I Ts5:8 no texto ele chama o capacete da salvação de capacete da esperança. → Desilusão versos Esperança. → Mundo e pecado versos igreja do Senhor. → Esperança dá a vida. → Esperança motiva → Esperança incentiva A esperança na salvação nos mantém firmes na batalhar como um marinheiro agarrando uma jangada em alto mar, enquanto ele segurar firme não naufragará. A idéia da salvação, ou entendimento da salvação requer compreender que é “salvos”; fomos salvos da ira de Deus contra incredulidade. Fomos salvos da culpa de nosso pecado. Fomos salvos das conseqüências da nossa estupidez, rebelião e modo perverso de vida. A esperança da salvação como um capacete Sabemos que o Espírito Santo deve ser um manancial de vida em seu coração, sempre promovendo a renovação em sua alma. Enfrentamos um grande problema quando não temos energia em nossa alma, porque isso causa em nós melancolia. Você tenta cantar, pular, pensamentos positivos e outras experiências, mas sua cabeça não aprumou. Você vai tomar o capacete da salvação e usa-lo? Vai permitir que Cristo levante sua cabeça e encha você de alegria e paz enquanto confiar nele? O Espírito Santo fará transbordar o seu coração de esperança. Lição XI A espada do Espírito Efésios 6:17b Um fato é real, a compreensão que a espada do Espírito é a palavra de Deus, mas precisamos responder de forma pessoal; sabemos manusear a espada, defender e atacar se preciso. O senhor estava sendo tentado no deserto pelo diabo, ele sacou a espada da palavra (Espírito) e três vezes derrotou o tentados. “Está escrito:” Mt 4:4 O diabo atacou: estas pedras... O Senhor contra atacou: não só de pão viverá o homem... Mt 4:7 O diabo atacou: para saltar do pináculo... O Senhor contra atacou: não tentarás o Senhor, teu... Mt 4:10 O diabo atacou: oferecendo-lhe todos os reinos... O Senhor contra atacou: Ao Senhor, teu Deus adorarás. O Senhor venceu esta luta “Retira-te, Satanás”. Como usamos essa arma? A espada do Espírito, que é a palavra de Deus não é a palavra grega usual, logos*, mas uma outra palavra grega, Rhema, que significa: “a própria expressão vocal de Deus”. A palavra do Espírito de Deus é muito pessoal. Não é pura teologia. É Deus falando a nós direta e nominalmente. A espada do Espírito nos Ajuda: a) Pensar como Deus Satanás tenta nos roubar a alegria da vida, fazendo gerar em nossos corações amargura e desilusão, podendo chegar a um ponto onde podemos nos entregar as drogas e a destruição. Mas está escrito: “Com amor eterno te amei” Jr 31:3 “Vosso corpo é santuário do Espírito Santo” I Co 6:19 b) Descobrir a vontade de Deus Ao ler a palavra você será direcionado a cumprir a vontade de Deus. A palavra confirmará seu chamado e a vontade do Senhor será revelada. c) Descobrir o Grande amor de Deus Diante das lutas, provas que desafiam nossa fé podemos ceder ao medo, à descrença, a duvida, geram dor no nosso coração. Devemos empunhar a espada da Palavra. “Está Escrito”. “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirá; nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador”. Is 43:23 O monstro chamado medo foge quando você contra ataca com a espada da palavra (Espírito). “O Senhor é meu pastor nada me faltará”. Sl 23:1 Para que usemos a espada do Espírito devemos conhecê-la, mas conhecer as suas propriedades requer exercício, disciplina, dedicação. Como um espadachim principalmente começa dando seus primeiros golpes, assim o soldado cristão começa a descobrir o poder da espada do Espírito, disciplinando na leitura da palavra. Lição XII Poder da oração Efésios 6:18-20 Com toda oração e suplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e suplica por todos os santos, e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez, fazer o conhecimento dos segredos o mistério de evangelho. Pela qual sou embaixador em cadeias para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre faze-lo. Chegamos em fim compreendendo que o apóstolo Paulo depois dessa analogia, entre um soldado e um cristão devidamente equipado, para a batalha espiritual. Começamos nossa jornada lendo a mensagem que propõe uma posição firme, com propósito direcionado na obra ou no campo de batalha “Sido fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”. Força e Poder Esses são ingredientes necessários para que o crente alcance vitória, mas depois de olhar para cada parte, ou para cada etapa preparatória em que o cristão recebe o equipamento, mas também é instruído a usá-lo. Uma ordem eficiente é dada ao soldado, ou soldados. Ef 6:18 Com toda súplica, orando em todo tempo no Espírito. Suplica → significa um grito por ajuda sabendo que recorremos ao Senhor em nossas dificuldades. No sentido de urgência, a oração ou com toda oração, falando com o Senhor em todo o tempo e de duas formas uma verbal orando em todo tempo no Espírito. Seria como se tivéssemos uma oração especifica para cada momento do nosso dia ou da nossa vida. Naquilo que é de Deus e o que nosso “Para isso vigiando” Sempre! Toda Perseverança - nosso inimigo não cessará de lançar em nós ou sobre nós sua setas, dúvidas, questionamentos, seremos tentados, o mundo ou Deus? Minha fé ou profissão, emprego, dinheiro? Temos nossas necessidades, mas todas elas devem passar pelo crivo da oração e a resposta de Deus pode ser sim ou pode ser não? “É suplica por todos os santos” Intercedendo: orando especificamente para as necessidades dos outros. Ação de Graça: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja teu Nome”. Devemos sempre olhar para cima, sempre temos motivos pra agradecer. Deus espera de nós um espírito de gratidão. Santificado seja teu nome: A primeira preocupação da oração é a glória de Deus e a marcha continua do seu Reino até terra. A armadura do Evangelho, o cinturão da verdade, a couraça da justiça, os calçados da paz, o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito – esses todos devem ser cobertos pela oração, revestidos com a oração. Por que a oração é necessária? O nome Adão significa “homem”, ser humano, Deus fez um homem e o chamou de homem, Ele fez um humano e o chamou humano. Ele criou Adão e o chamou Adão. O que Deus planejou para Adão projetou para todos nós. Qual era a intenção de Deus? Gn 1:26-28 Sl 8:3-8 Adão era representante de Deus na terra. Sl 8:32, Sl115:16, Gn 2:15 A palavra guardar é uma tradição da palavra hebraica Shaman, que significa zelar ou proteger. Não é uma pequena tarefa representar Deus, para facilitar-la criou o homem muito parecido com Ele, como aparição dele mesmo. Em Gn 1:27 e Sl 8:5 diz que o ser humano foi um pouco menor do que os seres celestiais. A humanidade foi coroada com a mesma glória de Deus aqui, autoridade para representá-lo isso demonstra o quanto o ser humano é importante e a responsabilidade que tinha em suas mãos. A Autoridade faz com que o homem carregue um grande peso – Adão carregou o peso sobre a terra. Ele representou Deus com pena autoridade. Ele era o responsável. ( I Co 11:7, II Co 3:18) Deus queria uma família, filhos e filhas, que pudessem se relacionar pessoalmente com ele e vive versa. E Deus disse: Dê-me netos e natas - “crescei e multiplicai”. A autoridade de Adão sobre a terra era tão completa que só Adão tinha a capacidade de transmiti-la a outro! Veja as palavras de satanás em Lc 4:6-7 “Eu te darei toda autoridade sobre eles...”. Quando se refere ao domínio era verdadeiro (Jesus não contesta Jo 12:31, Jo 14:30, Jo 16:11) A decisão de Deus de fazer as coisas sobre a terra através dos seres humanos foi completa e definitiva que lhe custou a Encarnação de seu filho, a fim de reconquistar o que Adão havia perdido. “Ele se tornou parte da raça humana”. Deus escolheu desde o principio trabalhar na terra através do homem. Tipos de oração → Adoração → Ação de graça → Petição → Intercessão – O que é? Orar guiado pelo Espírito Santo (Jd 1:20). Estar na brecha entre dois fatores (Ex 32:30, Ex 32:11). Um dos serviços mais altos para com Deus e o próximo. (Hb 7:24, Rm 8:34) É um ministério custoso e negligenciado. Por quê? Pois exige renuncia de tempo, de interesses próprios e até mesmo de ativismo religiosos. Resultados da Intercessão a) Para com Deus: • Move a mão de Deus (Jn 3:5-10) • Abre nações (Sl 2:8) • É mais forte que bombas de exércitos b) Para conosco: Traz-nos revelação de Deus, da pessoa dele • É uma das maneiras profundas de conhecer Deus • Aproxima-nos mais de Deus do que outros ministérios • Tira de nós toda a auto-piedade e introspecção • Ajuda-nos fisicamente, nos libera a mente. Devemos fazer alvos para o futuro, entretanto viver o presente. • Torna-nos servos autênticos do Senhor (At 10:1-7) Responsabilidades automáticas da intercessão Por quem devemos orar? Autoridades (I Tm 2:1-2) Líder Cristão (Ef 6:18-19) (Cl 4:3) (II Ts 3:1) Novos convertidos (Gl 4:19) Membros da família (I Tm 5:8) Nossa nação ou cidade (Jr 29:7) Pessoas que temos evangelizado Por aqueles que nos aborrece (Mt 5:44) Pelos missionários Pelas nações não evangelizadas (Sl 2:8) Como ser um Intercessor? Desejar ser um intercessor Determinação (escolher ser um) Disciplinar-se Confessar e arrepender-se (Sm 12:23) Humilhar-se diante de Deus, deixar o Espírito Santo agir, (Rm 8:26) Pedir ao Senhor que crie em nós uma vida de oração Ser cheio do Espírito Santo (Ef 4:26) Se guiado por Deus (Is 40:28) Escutar sua voz: a voz de Deus, a vos do eu, e vos de Satanás Princípios Básicos da intercessão 1- auto- exame – vamos pedir um coração puro (Sl:51) 2- reconhecer que não sabemos orar como convém (Rm 8:26) 3- Morrer para o eu 4- calar a voz de Satanás (os sofismas do diabo) 5- pedir que o Espírito Santo o lidere 6- agradecer e louvar em fé aquilo que Deus vai fazer 7- esperar em silêncio 8- orar pela carga recebida 9- crer que Deus ouve e responde 10- estar disposto a ser resposta da intercessão 11- guardar os segredos de Deus e dos outros Cuidados quanto à oração Formalismos 1º O TEMPO Os judeus devotos oravam três vezes ao dia, as três, as seis e as nove horas. Essas horas equivaliam as nossas: novo, doze e quinze (Dn 6:10, At 3:1) 2º O LUGAR O lugar principal era o templo, ou sinagoga. 3º À FORMA Os judeus tinham duas orações principais Shimá (ouve), o credo Judeu Shimone (dezoito bênçãos) 4º A ATENÇÂO O tempo da oração Princípios Bíblicos para a oração a) Dirigida ao Pai Mt 6:6-9 A base da oração cristã é que o Pai está sempre a disposição de seus filhos e nunca preocupado demais que não possa ouvi-los. Esse substantivo aparece 1200 vezes no Antigo Testamento. Dt 32:6, Sl 103:13, Ml 2:10 O Pai de forma reveladora: Mt 11:27 b) Sincera Mt 6:5-6 Os Judeus tinham suas orações em horas especificas muitos cumpriam estes horários com coração sincero, a palavra usada por Jesus em Mt 6:5 para “Praça e Лλατεια (Platua) entrada larga, rua caminho”. (Lc14:21; At 5:15) c) Objetiva Mt 6:6-8 O termo aqui é (battalogio) que só ocorre aqui, parece ser onomatopéia, falar sem sentido balbuciar, repetir palavras os sons inarticulados falar futilmente, gaguejar. Mt 6:7 “e, orando não useis de vãs repetições, como os gentios”. I Rs 18; At 19:34; Mc 12:38-40 d) Reverente Mt 6:9 “Vós, porém como meus discípulos devereis orar assim...”. “Os crentes não oram com a intenção de informar a Deus a respeito das coisas que Ele desconhece, ou para incitá-lo a cumprir seu dever, ou para apressa-lo, como se Ele fosse relutante. Pelo contrário, eles oram para que assim possam despertar-se e busca-lo, e assim exercitem sua fé na meditação da suas promessas, e alivias suas ansiedade, deixando-as nas mãos Dele ”. (Calvino 1509-1564) Procuramos Deus nos limites de nossas forças, confessando de forma contundente a nossa limitação; no entanto, Jesus Cristo nos desafia a esquecer nossas questões, os nossos problemas, e a conduzir nossos olhos para a glória de Deus... “Antes de começarmos a pensar em nós mesmos e em nossas próprias necessidades, antes de nossa preocupação com o próximo, devemos começar nossa oração por esse grande interesse a cerca do Senhor Deus, de Sua Honra e Glória”. Somente quando se dá a Deus seu lugar próprio, tudo mais passa a ocupar o lugar que lhe corresponde. Mt 6:33- Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu Reino e a sua Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. “Se quisermos conhecer a Deus e ser abençoado por Ele, precisamos começar as nossas orações pela adoração à sua pessoa. Precisamos orar, dizendo: “Santificado seja o teu nome”, dizendo-lhe que, antes de mencionarmos qualquer preocupação conosco, o nosso mais profundo anelo é que seja conhecido entre os homens.” (Matyn Sloyd. Jones 1899- 1981) Nesse ensinamento a outro ponto que deve ser realçado (orando falando com nosso Pai). Deus é um Pai Santo (Jo 17:11). Devemos nos aproximar com reverência e adoração, com temos e maravilha. É impossível louvar a Deus sem que sejamos tomados de um reverente temor diante da sua grandeza. (Sl 111:10) Tomos o privilégio de relacionar com Deus por meio de Jesus Cristo. (Hb 12:28-29) Davi inicia o Salmo 25 -que é uma mescla de meditação e oração- “A ti, Senhor elevo a minha alma”. (Sl 25:1). O salmista sabe e quem se dirige daí ele fala em elevar a alma, falar com Deus é sempre aproximar dele em adoração e respeito. (Sl 25:14) os íntimos de Eus são aqueles que o temem e o obedecem. Salomão, falando sobre Deus diz que Ele domina sobre o céu e a terra. (I Rs 8:27). Quando oramos, somos convidados a meditar em aquilo que Deus é, e tem feito. Ao dizermos “Santificado seja teu nome”. Davi declara (Sl 34:3) e (Sl 66:1-2) A nossa oração deve ser sempre um ato de glorificação à Deus. Nós o glorificamos quando reconhecemos quem é Deus e pelo Espírito, nos dispomos a cumprir a sua vontade... (Jo17:4-6) Lição XVIII Efésios 6:13 “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permaneceis inabaláveis.” Nossa vitória já está garantida a) Se compreendermos o conflito espiritual que estamos travando b) Devemos estar em constate vigília 1Pe 5,8,9a (Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como um leão que ruge procurando alguém para devorar: resisti-lhe firmes na fé.) Mesmo tomando posse da vitória, não devemos nos colocar no comodismo e sair da condição de vigília. Tg 4:7 (Sujeitai-vos, portanto, a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós). Ef 6:11 Revesti-vos – Vestir de Novo – Com toda a armadura de Deus Devemos ter cuidado para que não haja brecha em nossa armadura. Portanto: Efésios 6 Vs. 11 – Ficar Firmes Vs. 13 – Possais resistir Vs. 14 a – Cingindo-vos Vs. 14 b – Vestindo-vos Vs. 15 – Calçai Vs. 16 – Embraçando Vs. 18 a – Orando em todo tempo no Espírito Vs.18 b – E para isso vigiando Tg 4:8 Chegai-vos a Deus, e Ele se chegará a vós outros. Segundo o autor: Lembro-me quando era criança e não podia atravessar a rua sozinho, era preciso a ajuda de algum adulto para me ajudar. Essa deve ser a nossa atitude na vida espiritual precisamos da mão de Deus para nos conduzir em seguro. Hb: 4:16 “Acheguemos-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos a misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” O Que vem a ser o “dia mau”? O dia mau é o momento em que somos tentados, são os instantes em que estamos vulneráveis, os problemas nos enfraqueceu, esse dia pode ir e vir durante vários períodos de nossa caminhada. Tg. 4:7 Mas resisti ao diabo e ele fugirá de vós. Como resistir ao diabo? Sujeitando-se e achegando-se a Deus, Humilhando-se perante Deus e limpando o coração. 1º “Ao Senhor adorarás e só a Ele darás culto.” Mt 4:10 2º “Acheguemos-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono”. Hb 4:16 3º “E Deus salvará o humilde” Jó 22:29 4º “Sarai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos”. Is 1:16 5º O mesmo Deus da paz vos santifica em tudo: vosso espírito, alma e corpo Mas o que propomos é a idéia de vitória diante das seitas. IÇO 10:13 “Não veio sobre vós tentação, senão humana. E fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podereis resistir, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.”. Amém

quinta-feira, 17 de março de 2011

Introdução á Filosofia

O QUE É FILOSOFIA


“O que pretendo sob o título de filosofia, como fim e campo das minhas elaborações, sei-o, naturalmente. E contudo não o sei … qual o pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?…Só os pensadores secundários que, na verdade, não se podem chamar filósofos, estão contentes com as suas definições.” (Husserl).


“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”. (Merleau-Ponty)


1 - INTRODUÇÃO:


Lembremos a figura de Sócrates. Viveu em Atenas no século V a.C. Dizem que era um homem feio, mas, quando falava, era dono de um estranho fascínio. Procurado pelos jovens, passava horas discutindo na praça pública. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que julgavam entender determinado assunto. Colocava o interlocutor em tal situação, que não havia saída senão reconhecer a própria ignorância. Com isso Sócrates conseguiu rancorosos inimigos. Mas também alguns discípulos. O interessante é que a segunda parte do seu método, que se seguia á destruição da ilusão do conhecimento, nem sempre levava de fato a uma conclusão efetiva. Sabemos disso não pelo próprio Sócrates, que nunca escreveu, mas por seus discípulos, sobretudo Platão e Xenofonte.
Afinal, acusado de corromper a mocidade e ser ímpio para com os deuses da cidade, Sócrates foi condenado á morte. A história da sua condenação, defesa e morte é contada no belo diálogo de Platão Apologia de Sócrates. As discussões havidas durante a sua prisão são relatadas no Fédon, também de Platão, e versam sobre a imoralidade da alma.
A partir do que foi relatado, podemos fazer algumas observações:

• Sócrates não está em seu “gabinete” contemplando “o próprio umbigo”, mas está praça pública.

• A relação que ele estabelece com as pessoas não é puramente intelectual, nem alheia ás emoções.

• O seu conhecimento não é livresco, mas vivo e em processo de se fazer; o conteúdo é a experiência cotidiana.

• Guia-se pelo princípio de que nada sabe e, desta perplexidade primeira, inicia a interrogação e o questionamento do que é familiar.

• Ao criticar o saber dogmático, não quer dizer que ele próprio é detentor de um saber. Desperta as consciências adormecidas, mas ele não é um “farol” que ilumina; o caminho novo deve ser construído pela discussão, que é intersubjetiva, e pela busca criativa das soluções.

• Portanto, ele é “subversivo” porque “desnorteia” perturba a “ordem” do conhecer e do fazer e, portanto, deve morrer.


Se fizermos um paralelo entre Sócrates e a própria filosofia, chegaremos a idêntica conclusão: o lugar da filosofia é na praça pública, daí a sua vocação política. Por ser alteradora da ordem, é perturbadora, é incômoda e é sempre “expulsa da cidade”: as pessoas se riem do filósofo, consideram-no “inútil”. Por via das dúvidas, o amordaçam. Cortam o “mal” pela raiz: até retiram a filosofia dos cursos secundários… Mas há outras formas de “matar” a filosofia, como quando a tornamos pensamento dogmático e discurso do poder, ou, ainda, quando cinicamente reabilitamos Sócrates morto, já que então se tornou inofensivo.

2. FISOSOFIA: ETIMOLOGIA

Os antigos gregos tinham inicialmente uma consciência mítica, cuja manifestação maior foram os poemas de Homero e Hesíodo.
Quando se deu a passagem do mundo mítico para a consciência racional, apareceram os primeiros sábios, sophos, como se diz em grego. Um deles, chamado Pitágoras (séc. VI a.C.) - também conhecido como matemático - usou pela primeira vez a palavra filosofia (philos-sophia), que significa “amor a sabedoria”. É bom abservar que a própria etimologia mostra que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade.

3. A FILOSOFIA NÃO É UM SABER

Com esta estranha afirmação, não estamos querendo dizer que a filosofia não é um trabalho teórico. Ela o é. Mas queremos enfatizar que ela não é um corpo de doutrina, não é um saber acabado, com um determinado conteúdo, não é um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas.
Para Kant, filósofo alemão do século XVIII, ”não há filosofia que se possa aprender a filosofar”. Isso significa que a filosofia é, sobretudo uma atitude um pensar permanente. Ela é um conhecimento instituinte, no sentido de questionar o saber instituído. Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição de onde deriva a capacidade de problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como sua busca.
Portanto, não se trata de um saber “abstrato” á margem da vida. O próprio tecido do seu pensar é a trama dos acontecimentos, é o cotidiano; por isso a filosofia se encontra no seio mesmo da história. No entanto, está mergulhada no mundo e fora dele, eis o paradoxo enfrentado pelo filósofo. “Pois é impossível negar que a filosofia coxeia. Habita a história e a vida, mas quereria instalar-se no seu centro, naquele ponto em que são advento, sentido nascente. Sente-se mal no já feito. Sendo expressão, só se realiza renunciando a coincidir com aquilo que exprime e afastando-se dele para lhe captar o sentido. É a utopia de uma posse á distância.

4. A FILOSOFIA NÃO SE CONFUNDE COM A CIÊNCIA

Nos seus primórdios, a ciência se achava ligada á filosofia, sendo o filósofo aquele “sábio” que refletia sobre todos os setores da indagação humana. Por isso, é possível falar a geometria de Tales e Pitágoras e na física e astronomia aristotélicas.
A partir do século XVII, a revolução científica iniciada por Galileu determinou a ruptura dessas duas formas de abordagem do real. Lentamente apareceram as chamadas ciências particulares - física, astronomia, química, biologia, psicologia e sociologia etc., delimitando um campo específico de pesquisa. Na verdade, o que estava ocorrendo era o nascimento mesmo da ciência, pois ela não existia propriamente antes disso. A física cabe investigar o movimento dos corpos; á biologia, a natureza dos seres vivos; á química, as transformações substanciais, e assim por diante. Ocorre a fragmentação do saber, cada ciência se ocupando de um objeto específico. Á delimitação do objeto se acrescenta o aperfeiçoamento do método científico, fundado, sobretudo na experimentação e matematização. O confronto dos resultados e a sua verificabilidade permitem uniformidade de conclusões e, portanto, certa objetividade. As afirmações da ciência são chamadas juízos de realidade, já que de uma forma ou de outra pretendem mostrar como fenômenos ocorrem, quais as suas relações e, consequentemente, como prevê-los.
A primeira questão que nos ocorre é imaginar o que resta á filosofia, se ela, ao longo do tempo, foi “esvaziada” do seu conteúdo pelo aparecimento das ciências particulares, tornadas independentes. E, neste século, até as questões referentes ao homem reivindicam o estatuto de cientificidade representado pela procura do método das ciências humanas.
Na verdade, a filosofia continua tratando dessa mesma realidade apropriada pelas ciências. Apenas que as ciências se especializem e observam “recortes” do real, enquanto a filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade. A visão da filosofia é uma visão de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sempre sob a perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com os outros do contexto em que está inserido. Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a filosofia, no sentido inverso, quer superar essa fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba á alienação do saber parcelado.
Com isso, não estamos negando o papel do especialista, nem o valor da técnica que deriva deste saber, mas queremos dizer que o saber especilalizado, sem a devida visão de conjunto, leva á exaltação do “discurso competente” e ás conseqüentes formas de dominação.
Em todos os setores do conhecimento e da ação, a filosofia deve estar presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos deste conhecimento e deste agir.
Então, por exemplo, se a física, a química etc. se denominam ciências e usam um determinado método, saber o que é ciência, o que distingue este conhecimento de outros, o que é método, qual a sua validade, não é da alçada do próprio físico ou do químico. Eles até podem dedicar-se a essas questões, mas nesse momento deixam de ser cientistas e passam a ser filósofos. A mesma coisa ocorre com o psicólogo ao lidar com o conceito de homem livre. Indagar sobre a liberdade é fazer filosofia. Mudando o enfoque: E se a questão for o comércio ou a fábrica? A partir da análise das relações sociais resultantes da divisão do trabalho, podemos questionar sobre o que é o homem, o que o trabalho significa para ele e em que medida essa divisão interfere na concepção que ele tem de si mesmo e do mundo.
Portanto, a filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando numa linha de montagem repetindo sempre o mesmo gesto. Mas vai além desta constatação. Não só vê como é, mas como deveria ser. Julga o valor da ação, sai em busca do significado dela. Filosofar é dar sentido á experiência.


5. O PROCESSO DO FILOSOFAR

Mas como seria este caminhar do filósofo? Sabemos que, na medida em que somos seres racionais e sensíveis, estamos sempre dando sentido ás coisas. Ao “filosofar” espontâneo do homem comum, costumamos chamar filosofia de vida.
Trata-se de um pensar ainda não tematizado, ou seja, ainda não posto em discussão, pelo qual o homem, no seu cotidiano, escolhe seus caminhos. Por exemplo: quando preferimos morar em casa e não em apartamento, quando deixamos um emprego bem pago por outro não tão bem remunerado, porém mais atraente, ou quando escolhemos o colégio onde estudar. Há valores que entram em jogo aí. Se escolho um “colégio fraco para passar de ano” e ter tempo para passear, ou se, ao contrario, prefiro um “colégio forte para me preparar para o vestibular”, ou ainda dentro desta última opção, “um bom colégio para ter um contato melhor com o mundo da cultura e abrir possibilidades de autoconhecimento”, podemos ver que estamos diante de diferentes filosofias de vida.
A filosofia propriamente dita tem condições de surgir no momento em que esse pensar é posto em causa, tornando-se objeto de uma reflexão.
Examinemos a palavra reflexão: quando vemos nossa imagem refletida no espelho, há um “desdobramento” da nossa figura, pois estamos aqui e estamos lá; no reflexo da luz, ela vai até o espelho e retorna; reflectere em latim significa fazer retroceder, voltar atrás.
Aproveitando esses diversos significados, refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece.
Portanto, a filosofia não é um pensar qualquer, mas é uma reflexão. Mas também não é qualquer reflexão. O homem comum, no cotidiano da vida, é levado a momentos de parada, a fim de retomar o significado dos seus atos e pensamentos, e nessa hora é solicitado a refletir. Ainda não é filosofia o que faz.
A reflexão é filosófica quando é radical, rigorosa e de conjunto. Assim explica o professor Dermeval Saviani.
“Radical”: em primeiro lugar, exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, entendida esta palavra no seu sentido mais próprio e imediato. Quer dizer, preciso que se vá até as raízes da questão, até seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se opere uma reflexão em profundidade.
“Rigorosa: em segundo lugar e como que para garantir a primeira exigência deve-se proceder com rigor, ou seja, criticamente, segundo métodos determinados, colocando-se em questão as conclusões da sabedoria popular e as generalizações que a ciência pode ensejar”.
“De conjunto: em terceiro lugar, o problema não pode ser examinado de modo parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido. É neste ponto que a filosofia se distingue da ciência de um modo mais marcante”.
A maneira pela qual se faz rigorosamente essa reflexão varia conforme a orientação do filósofo e a tendências históricas decorrentes da situação vivida pelos homens na sua ação sobre o mundo.




6. QUAL É A “UTILIDADE” DA FILOSOFIA?


Para responder a esta questão, precisamos saber primeiro o que entendemos por utilidade. E eis o primeiro impasse. Vivemos num mundo em que a visão das pessoas está marcada pela busca dos resultados imediatos do conhecimento. Então, consideram importante a pesquisa do biólogo em busca da cura do câncer; acham importante o estudo da matemática no 2º. Grau porque “entra no vestibular”; e constantemente o estudante se pergunta: “Para que vou estudar isto, se não usarei na minha profissão?”
Seguindo esta linha de pensamento, a filosofia é realmente “inútil”: ela não serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática. Neste ponto, ela é semelhante á arte. Se perguntarmos qual é a finalidade de uma obra de arte, veremos que ela tem um fim nela mesma e, neste sentido, é “inútil”.
Entretanto, não ter utilidade imediata não significa ser desnecessário. Onde está a necessidade da filosofia? Está no fato de que ela, por meio da reflexão (aquele desdobrar-se, lembra-se?), permite que o homem tenha mais que uma dimensão, ou seja, a que é dada pelo agir imediato no qual o “homem prático” se encontra mergulhado. É ela que permite o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam. É ela que reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade. É ela que retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la. Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a sua imanência, (que significa a situação dada e não escolhida). Pela transcendência, o homem surge como um ser de projeto, capaz de construir o seu destino, capaz de liberdade.
O distanciamento a que nos referimos é o que vai provocar a aproximação maior do homem com a vida. Whitehead, lógico e matemático britânico contemporâneo, disse que “a função da razão é promover a arte da vida”. A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas). A filosofia impede a estagnação.
Por isso, o filosofar sempre se confronta com o poder, não devendo sua investigação estar alheia á ética e á política.
“Desde que há Estado - da cidade grega ás burocracias contemporâneas -, a idéia de verdade sempre se voltou, finalmente, para o lado dos poderes (ou foi recuperada por eles, como testemunha, por exemplo, a evolução do pensamento francês do século XVIII ao século XIX). Por conseguinte, a contribuição específica da filosofia que se coloca ao serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as instituições repressivas e simplificadoras; quer se trate da ciência, do ensino, da tradução, da pesquisa, da medicina, da família, da polícia, do fato carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara, deslocá-la, arrancá-la...”
A filosofia é, portanto, a crítica da ideologia. Atentando para a etimologia do vocábulo grego correspondente á verdade ( a-létheia, a letheúein, “desnudar”), vemos que a verdade é pôr a nu aquilo que estava escondido, e aí reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder.
Finalmente, a filosofia exige coragem. Filosofar não é um exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que tentam manter o status quo, é aceitar o desafio da mudança. Saber para transformar.
Lembrando que Sócrates foi aquele que enfrentou com coragem o desafio máximo da morte.


7. O MÉTODO DA FILOSOFIA

Não vamos descrever os métodos da filosofia, já que eles aparecem no desenrolar do livro. O esquema alinhavado a seguir tem por finalidade dar uma visão de conjunto.
Sócrates (séc.V a. C) usa um método que se divide em duas partes: a ironia (em grego significa perguntar), que destrutiva, por conclui pela descoberta da própria ignorância; a maiêutica (em grego significa parto) é o “dar á luz” novas idéias e é, portanto construtiva. Assim, Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituído, para depois, para depois reconstruí-lo na procura da definição do conceito.
Platão, seu discípulo, aperfeiçoa a maiêutica e a transforma em dialética, segundo a qual as intuições sucessivas se contrapõem uma ás outras até se aproximarem o mais possível das essências ideais que constituem a verdade absoluta: é a marcha realizada pelo pensamento, do mundo sensível até o mundo das idéias.
Aristóteles ( séc. IV a.C) aperfeiçoa e sistematiza as descobertas dos seus antecessores e escreve o Órganon (“instrumento de pensamento”), mais tarde denominado Lógica. O que Aristóteles desenvolve são as regras do pensamento correto, por meio do encadeamento das proposições e das ligações dos conceitos mais gerais para os menos gerais, de forma a garantir o rigor da demonstração. Nesse processo, estabelece as leis do silogismo, o que delineará de maneira marcante a tendência do seu pensamento em privilegiar a argumentação dedutiva.
Na idade Média, a influência platônico-aristotélica é grande, e os representantes da escolástica estão preocupados em desenvolver a discussão, a argumentação, o pensamento discursivo. O exagero da dialética medieval (que não deve ser confundida com a dialética platônica) voltada para a busca da demonstração racional, redunda em verbalismo vazio, o que determina o declínio da escolástica no final da Idade Média.
Daí o recomeçar de Descartes, no século XVII, procurando não a discussão que surge após a intuição, mas a sua própria intuição intelectual e o método todo para consegui-la. Podemos mesmo dizer que só na Idade Moderna surge propriamente a questão do método. Se antes o método já existia, agora ele é questionado como tal. O que ocorre é a descoberta da subjetividade, ou seja, o conhecimento do mundo não se faz sem este pólo que é o sujeito que conhece. Isto é acentuado no percurso da dúvida cartesiana, que, colocando em questão a existência do mundo, descobre como verdade indubitável, isto é, da qual não se pode ter dúvida, a substância pensante: “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo).
Do pensamento cartesiano, derivam duas correntes antagônicas, o racionalismo e o empirismo, onde se debateram os pensadores nos dois séculos seguintes (Lock, Hobbes, Hume, Berkeley, Leibniz).
Kant, no século XVIII, desenvolve o criticismo, pelo qual “coloca a razão em um tribunal”, a fim de averiguar o alcance de suas afirmações.
No século XIX, o positivismo de Comte., após analisar as diversas abordagens do real, considera apenas o fato positivo (aquele que pode ser medido e controlado pela experiência) o único digno de consideração, descartando as formas “imperfeitas” do conhecimento. Seu método ressurge no nosso século no neopositivismo, cujos representantes são Wttgenstin, Schlick, Carnap.
No século XIX, surge o método dialético, inicialmente com Hegel na sua versão idealista e posteriormente com Marx e Engels na proposta materialista. Trata-se de uma concepção diferente daquelas que apareceram até então, não se confundindo, por exemplo, com a dialética platônica. Sua influência persiste até hoje nas teorias de origem marxista.
No final do século XIX e no correr do nosso século, Husserl inicia o método fenomenológico, pelo qual tenta superar a cisão do racionalismo e empirismo. Seus seguidores foram Heidegger, Jaspers, Marleasu-Ponty, os filósofos da linha existencialista como Sartre, Gabriel Marcel, Camus. Dá se também um entrelaçamento com o método dialético, nos casos dos pensadores que sofrem influencia do marxismo.
Outro método chamado estruturalismo surgiu no século XX, a partir das pesquisas em duas ciências humanas, a lingüística (Saussure, Jakobson) e a antropologia (Levi-Strauss). Essas ciências partem do princípio de que sob certas estruturas superficiais há estruturas profundas que precisam ser investigadas, independentemente dos fatores históricos existentes no momento (o estruturalismo se opõe ao historicismo). A aplicação do método na psicanálise (Freud) foi feita por Lacan e na crítica literária por Rolland Barthes.


8. FILOSOFIA: NEM DOGMATISMO, NEM CETICISMO

Dogmatikós, em grego significa “que se funda em princípios” ou “e relativo ao uma doutrina”.
Dogma é o ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa. Na religião cristã, por exemplo, há o dogma da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), a qual não deve ser confundida com a existência de três deuses, pois se trata de apenas um. Deus é uno e trino. Não importa se a razão não consegue entender, já que um princípio aceito pela fé e o seu fundamento é a revelação divina.
Quando transpomos esta idéia de dogma para áreas estranhas á religião, ela passa a ser prejudicial ao homem, que uma vez de posse de uma verdade, fixa-se nela e abdica de continuar a busca. O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o homem dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas. Refratário ao diálogo teme o novo e não raro se torna intransigente e prepotente. Disse Nietzsche, filósofo alemão do século XIX que “as convicções são prisões”. Quando o dogmático resolve agir, o fanatismo é inevitável. Em nome do dogma da raça ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus nos campos de concentração.
“Contemporaneamente, o dogmatismo (...) tem assumido um caráter principalmente ideológico e político. Convertendo-se em ideologia, a filosofia política se converte em doutrina oficial do Estado, ortodoxia a ser defendida pela censura e pelo aparelho repressivo, policial e militar”.
Skeptikós em grego significa “que observa”, “que considera”. O cético tanto observa e tanto considera, que conclui pela impossibilidade do conhecimento. Confrontando as diversas filosofias percebe que são diferentes e ás vezes contraditórias, concluindo que é impossível aderir a qualquer uma delas.
Enquanto o dogmático se apega á certeza de uma doutrina, o cético conclui pela impossibilidade de toda certeza e, neste sentido, considera inútil esta busca infrutífera que não leva a lugar nenhum.
Comparando essas duas posições antagônicas, podemos ver que elas têm algo em comum, ou seja, a visão imobilista do mundo: o dogmático atingiu uma certeza nela permanece; o cético anseia pela certeza e decide que ela é inalcançável. Mas a filosofia é movimento, pois o mundo é movimento. A certeza e sua negação são apenas dois momentos (a tese e a antítese) que serão superados pela síntese, e assim por diante. A filosofia é a procura da verdade, não a sua posse, como disse Jaspers, filósofo alemão contemporâneo, concluindo que “fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”.


TEXTOS COMPLEMENTARES


A FILOSOFIA NO MUNDO

1. Seja a filosofia o que for, está presente em nosso mundo e a ele necessariamente se refere.
Certo é que ela rompe os quadros do mundo para lançar-se ao infinito. Mas retorna ao finito para aí encontrar seu fundamento histórico sempre original.
Certo é que tende aos horizontes mais remotos, a horizontes situados para além do mundo, afim de ali conseguir, no eterno, a experiência do presente. Contudo, nem mesmo a mais profunda meditação terá sentido se não se relacionar á existência do homem, aqui e agora.
A filosofia entrevê os critérios últimos, a abóbada celeste das possibilidades e procura, á luz do aparentemente impossível, a via pela qual o homem poderá enobrecer-se em sua existência empírica.
A filosofia se dirige ao indivíduo. Dá lugar á livre comunidade dos que, movidos pelo desejo de verdade, confiam uns nos outros. Quem se dedica a filosofar gostaria de ser admitido nessa comunidade. Ela está neste mundo, mas não poderia fazer-se instituição sob pena de sacrificar a liberdade de sua verdade. O filósofo não pode saber se integra a comunidade. Não há distância que decide admiti-lo ou recusa-lo. E o filósofo deseja, pelo pensamento, viver de forma tal que a aceitação seja, em princípio, possível.
2. Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de filosofia nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força da tradição, a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo. A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer utilidade prática. É nomeada em público, mas existirá realmente? Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar.
A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter “opiniões” e contentar-se com elas.
A polêmica torna-se encarniçada. Uns instintos vitais, ignorados de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente.
E surgem os detratores, que desejam substituir a obsoleta filosofia por algo de novo e totalmente diverso. Ela é desprezada como produto final e mendaz de uma teologia falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada. E a filosofia vê-se denunciada como instrumento servil de poderes políticos e outros.
Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia.
Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A autocomplancência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a bonomia dos políticos, os fanatismos das ideologias, a aspiração a um nome literário, tudo isso proclama a antifilosofia. E os homens não o percebem porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida, que, se aprofundada, engendraria sua própria aniquilação.

3. O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira á verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz.
E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra infinito.
No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo.
Quem se dedica á filosofia põe-se á procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade.
Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna consigo mesma.


O QUE É ISTO - A FILOSOFIA?


Os pensadores gregos, Platão e Aristóteles chamaram a atenção para o fato de que a filosofia e o filosofar fazem parte de uma dimensão do homem, que designamos dis-posição (no sentido de uma tonalidade afetiva que harmoniza e nos convoca por um apelo).
Platão diz: (...) “É verdadeiramente de um filósofo este páthos - o espanto; pois não há outra origem imperante da filosofia que este”
O espanto é, enquanto páthos, arkhé da filosofia. Devemos compreender, em seu pleno sentido, a palavra grega ark-hé. Designa aquilo de onde algo surge. Mas esse “de onde” não é deixado para trás no surgir; antes, a arkhé torna-se aquilo que é expresso pelo verbo arkhein, o que impera. O páthos do espanto não está simplesmente no começo da filosofia, como, por exemplo, o lavar das mãos procede a operação do cirurgião. O espanto carrega a filosofia e impera em seu interior.
Aristóteles diz o mesmo (...) “Pelo espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente á origem imperante do filosofar” (áquilo de onde nasce o filosofar e que constantemente determina sua marcha).
Seria muito superficial e, sobretudo, uma atitude mental pouco grega se quiséssemos pensar que Platão e Aristóteles apenas constatam que o espanto é a causa do filosofar. Se esta fosse a opinião deles, então diriam: um belo dia os homens se espantaram, a saber, sobre o ente sobre o fato de ele ser e de que ele seja. Impelidos por este espanto, começaram a eles as filosofar. Tão logo a filosofia se pôs em marcha, tornou-se o espanto supérfluo como impulso, desaparecendo por isso. Pôde desaparecer já que fora apenas um estímulo. Entretanto: o espanto é ark-hé, ele perpassa qualquer passo da filosofia. O espanto é páthos. Traduzimos habitualmente páthos por paixão, turbilhão afetivo. Mas páthos remonta a páskhein, sofrer, agüentar, suportar, tolerar, deixar-se convocar por. É ousado, como sempre em tais casos, traduzir páthos por disposição, palavra com que procuramos expressar uma tonalidade de humor que nos harmoniza e nos convoca por um apelo. Devemos, todavia ousar esta tradução porque só ela nos impede de representarmos páthos psicologicamente no sentido da modernidade. Somente se compreendermos páthos como disposição ( dis-position) podemos também caracterizar melhoro thaumázein, o espanto. No espanto detemo-nos (être en arrêt). É como se retrocedêssemos diante do ente pelo fato de ser e de ser assim e não de outra maneira. O espanto também não se esgota neste retroceder e manter-se suspenso é ao mesmo tempo atraído e como que fascinado por aquilo diante do que recua. Assim o espanto é a disposição na qual e para a qual a ser do ente se abre. O espanto é a disposição em meio á a qual estava garantida para os filósofos gregos a correspondência ao ser do ente.

(Heidegger, O que é isto -a filosofia?, in Col. Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural,1973, p.219.)



TEXTOS COMPLEMENTARES


FRAGMENTOS DE PRÉ-SÓCRATES

Como a maior parte das obras dos pré-socráticos desapareceram, Herman Diels e Walther Krans selecionaram os fragmentos que sobraram, reconhecendo os autênticos, assim como fizeram levantamento de uma ampla doxografia, ou seja, transcreveram as referências de diversos autores a respeito daqueles filósofos. Os trechos a seguir referem-se a alguns desses fragmentos, bem como a comentários de doxográfos.

Anaximandro

Anaximandro não explica a gênese pela mudança do elemento primordial, mas pela separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. (Simplício)
Contrários são quente e frio, seco e úmido, e os outros. ( Simplício).
Anaximandro afirma que, por ocasião da gênese deste cosmos, a força criadora do princípio eterno separou-se do calor e do frio, formando-se uma esfera deste fogo ao redor do ar que envolve a Terra, assim como a casca em torno da árvore. Quando esta se rompeu, dividindo-se em diversos círculos, formaram-se o Sol, a Lua e as estrelas. ( Pseudo Plutarco).

Anaxímenes

Outros dizem que a alma é ar, como Anaxímenes e alguns estóicos. (Filópono).
As estrelas surgiram da Terra, ao destacar-se desta a umidade ascendentes; com a rarefação da umidade, surgiu o fogo, que se elevava, construíram-se as estrelas. (Hipólito).

Heráclito

(Heráclito afirma a unidade de todas as coisas: do separado e do não separado, do gerado, do mortal e do imortal, da palavra (logos) e do eterno, do pai e do filho, de Deus e da justiça). É sábio que os que ouviram, não a mim, mas as minhas palavras (logos), reconheçam que todas as coisas são um.
Eles não compreendem como, separando-se, podem harmonizar-se: harmonia de forças contrárias, como o arco e a lira.
A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei; de uns fez deuses, de outros, homens; de uns, escravos, de outros homens livres.


Parmênides

Os (anéis) mais estreitos estão cheios de fogo sem mistura; os (seguintes) estão cheios da noite, mas entre ambos está projetada a parte de fogo; no centro destes (anéis) está a divindade que tudo governa; pois em tudo ela é o principio do cruel nascimento e da união, enviando o feminino a unir-se com o masculino, como, ao contrário o masculino com o feminino.
Em primeiro lugar criou (a divindade do nascimento ou do amor), entre todos os deuses, a Erro (…).

Empédocles

Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente composição e dissociação dos elementos compostos: nascimento não é mais do que um nome usado pelos homens.
Esta (luta das duas forças) é manifesta na massa dos membros humanos: ás vezes unem-se pelo amor todos os membros, que atingiram a corporeidade, na culminância da vida florescente; outras divididos pela cruel força da discórdia, erram separados nas margens da vida . Assim também com as árvores e peixes das águas, com os animais selvagens das montanhas e os pássaros mergulhões levados por suas asas.

(Apud G.Bornheim, Os filósofos pré-socráticos, 3. ed., São Paulo, Cultrix, 1977, p. 26, 29, 39, 57, 69 e 70.)





Ciência e missão de Sócrates

Um de vós poderia intervir: “Afinal, Sócrates, qual é a tua ocupação? Donde procedem as calúnias a teu respeito? Naturalmente, se não tivesses uma ocupação muito fora do comum, não haveria esse falatório, a menos que praticasses alguma extravagância. Dize-nos, pois, qual é ela, para que não façamos nós um juízo precipitado”. Teria razão quem assim falasse; tentarei explicar-vos a procedência dessa reputação caluniosa. Ouvi, pois Alguns de vós achareis, talvez, que estou gracejando, mas não tenhais dúvida: eu vos contarei toda a verdade. Pois eu, Atenienses, devo essa reputação exclusivamente a uma ciência. Qual vem a ser a ciência? (...). Para testemunhar a minha ciência, se é uma ciência. E qual é ela, vos trarei o deus de Delfos. Conhecestes Querefonte, decerto. (...) Ora, certa vez, indo a Delfos arriscou esta consulta ao oráculo - repito, senhores; não vos amotineis - ele perguntou se havia alguém mais sábio que eu; respondeu a Pítia que não havia ninguém mais sábio. Para testemunhar isso, tendes aí o irmão dele, porque ele já morreu.
Examinei porque vos conto eu esse fato; é para explicar a procedência da calúnia. Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente, não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor. Fui ter com um dos que passam por sábios, porquanto, se havia lugar, era ali que, para rebater o oráculo, mostraria ao deus: “Eis um mais sábio que eu, quando tu disseste que eu o era!” Submeti a exame essa pessoa - excusado de dizer o seu nome; era um dos políticos. Eis aqui Atenienses, a impressão que me ficou do exame e da conversa que tive com ele; achei que ele passava por sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Meti-me então a explicar que supunha-lhe ser sábio mas não o era. A conseqüência foi tornar-me odiado dele e de muitos dos circunstantes.
Ao retirar-me, ia concluindo de mim para comigo: “Mais sábio do que esse homem eu sou, é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um nadinha mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei”. Daí fui ter com outro, um dos que passam por ainda mais sábios e tive a mesmíssima impressão; também ali me tornei odiado dele e de muitos outros.
Depois disso, não parei, embora sentisse, com mágoa e apreensões, que me ia tornando odiado; não obstante, parecia-me imperioso dar a máxima importância ao serviço do deus. Cumpria-me, portanto, para averiguar o sentido do oráculo, ir ter com todos os que passavam por senhores de algum saber. Pelo Cão, Atenienses! Já que vos devo a verdade, juro, que se deu comigo mais ou menos isto: investigando de acordo com o deus, achei que aos mais reputados pouco faltava para serem os mais desprovidos, enquanto outros, tidos como inferiores, eram os mais visos tinham de ser homens de senso. Devo narrar-vos os meus vai-véns nessa faina de averiguar o oráculo. (...)
Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham e são os que dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas sentem prazer em ouvir o exame dos homens; eles próprios imitam-me muitas vezes; nessas ocasiões, metem-se a interrogar os outros; suponho que descobrem uma multidão de pessoas que supõem saber alguma coisa, mas pouco sabem, quiçá nada. Em conseqüência, os que eles examinam se exasperam contra mim e não contra si mesmos e propalam que existe um tal Sócrates, um grande miserável, que corrompe a mocidade. Quando se lhes pergunta por quais atos ou ensinamentos, não têm o que responder; não sabem, mas, para não mostrar seu embaraço, aduzem aquelas acusações contra todo filósofo, sempre á mão: ”os fenômenos celestes o que há sob a terra - a descrença dos deuses - o prevalecimento da razão mais fraca”. Porque suponho, não estariam dispostos a confessar a verdade: terem dado prova de que fingem saber, mas nada sabem. Como são ciosos de honrarias, tenazes, e numerosos, persuasivos no que dizem de mim por se confirmarem uns aos outros, não é de hoje que eles tem enchido vossos ouvidos de calúnias assanhadas. Daí a razão de me atacarem Meleto, Ânito e Licão - tomando Meleto as dores dos poetas; Ânito, as dos artesãos e políticos; e Licão, a dos oradores. Dessarte, como dizia ao começar, eu ficaria surpreso se lograsse, em se lograsse, em tão curto prazo, delir em vós os efeitos dessa calúnia assim avolumada. Aí tendes, Atenienses, a verdade; em meu discurso não vos oculto nada que tenha alguma importância, nada vos dissimulo. Sem embargo, sei que me estou tornando odioso por mais ou menos os mesmos motivos, o que comprova a verdade do que digo, que é mesmo essa calúnia contra mim e são mesmo essas as suas causas. É o que haveis de descobrir, se investigardes agora ou mais tarde.


A FILOSOFIA E AS CIÊNCIAS

“Ciência sem consciência não é senão a morte da alma”. (Montaigne)
“O sono da razão produz monstros”. (inscrição em uma pintura de Goya)


1 - Introdução

Fazendo um breve retrospecto, na Antiguidade grega, a ciência se encontra vinculada á filosofia. A separação só ocorre no século XVII, quando Galileu introduz o método cientifico, baseado na experimentação e na matematização. Nos séculos seguintes, o método da física é utilizado na compreensão de outros setores da natureza, provocando o nascimento das ciências particulares. A eficácia da nova maneira de abordar a realidade se faz notar no desenvolvimento da técnica, que é ao mesmo tempo a aliada da ciência no processo experimental e também fruto desse novo saber. A Revolução Industrial (séc. XVIII) representa a materialização desse sucesso, que amplia o poder da classe burguesa, promotora desde o inicio da ruptura com o pensamento medieval contemplativo.
Um ideal de cientificidade envolve todas as disciplinas que se pretendem ciências, inclusive as ciências humanas.
Por influência do positivismo do século XIX, surge o cientificismo, que, exaltando a ciência como a forma mais adequada de conhecer, critica o conhecimento mítico, religioso ou metafísico, por não se fundarem na experiência do fato positivo.
O cientificismo positivista e, na verdade, um reducionismo:
• Reduz o objeto próprio das ciências á natureza observável, ao fato positivo;
• Reduz a filosofia aos resultados das ciências;
• Reduz as ciências humanas ás ciências da natureza.
Mas a preocupação positivista de tudo reduzir ao racional redunda no seu oposto, ou seja, na criação de mitos. O positivismo cria o mito da cientificidade, segundo o qual o único conhecimento perfeito é o cientifico. Embora esse conhecimento venha da experiência, dos fatos observados, o saber que ele constrói passa a ser considerado o único que tem autoridade: portanto, o poder pertence a quem possui o saber. Cria-se assim um outro mito, o mito do especialista, e o corolário do discurso competente: “não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstância. O discurso competente confunde-se, pois com a linguagem institucionalmente permitida ou autorizada, isto é, com um discurso no qual os interlocutores já foram previamente reconhecidos como tendo o direito de falar e ouvir, no qual os lugares e as circunstâncias foram predeterminadas para que seja permitido falar e ouvir e, enfim,no qual o conteúdo e a forma já foram autorizados segundo os cânones da esfera de sua própria competência”.
O que se observa aí é que, se há um discurso competente, isso significa que, em contraposição, há os incompetentes (nós...), cujo não-saber supõe a aceitação passiva do discurso do saber. Cabe á teoria o papel de comando sobre a prática dos homem a teoria manda porque possui as idéias e a prática obedece porque é ignorante (perde-se a relação dialética teoria-práxis). Observe de novo o conceito de ordem associado ao de hierarquia, característica do pensamento de Comte.
Outra decorrência é a fragmentação do saber em campos compartimentados, cabendo a cada especialista uma investigação rigorosa de uma parte do todo. A veia satírica de Pittigrilli bem nos mostrou o que isso significa: “O especialista é aquele que sabe tanto de uma parte, até saber tudo de nada…”.
Imbricada na noção de especialização, está o mito da tecnocracia. É o próprio Comte quem diz: “Ciência, logo previsão, logo ação”. O positivismo garante a justificação do poder da técnica e, mais que isso, do poder dos tecnocratas. Passamos a viver num mundo cuja última palavra é sempre dada aos técnicos e aos administradores competentes.
Por fim (mas não por último), o positivismo gera o mito do progresso. Se as ciências e as técnicas aumentam o controle do homem sobre a natureza e a sociedade, parece válido pensar que a ação,cada vez mais eficaz, leve a um desenvolvimento expresso pelo progresso. E esse progresso, que parece embrionário e latente, bastando á técnica trazê-lo á luz, justifica todas as ações do homem. Conhecemos as conseqüências: em nome do progresso, as construções urbanas tornam a vida humana cada vez mais solitária; as fábricas poluem o ar; a especulação imobiliária destrói o verde; a modernização da agricultura torna mais miserável a vida dos bóias-frias.

2 - Qual o papel da filosofia?

Vimos a civilização ocidental se desenvolver vertiginosamente sob o signo do saber objetivo e tecnocrático, organizando-se em torno dos princípios da ciência e do progresso. A visão utilitarista daí decorrente não abre espaço para a filosofia, “que não serve para nada”.
Mas a filosofia, aparentemente abandonada, encontra-se, na verdade como pressuposto da ciência, que se recusa a investigar os próprios fundamentos. Assim, cabe á filosofia descobrir o conceito de homem subjacente a cada ciência. O exercício de investigação de tudo o que o homem pensa e faz visa buscar os significados que não se revelam á primeira vista . A análise crítica denuncia a escamoteação do homem, ou seja, verifica como certas teorias ou práticas, embora aparentemente humanizadoras e progressistas ( como as resultantes do ideal positivista), são na verdade formas de alienação humana.
A filosofia tem também a função de exercer uma interdisciplinaridade que recoloque o problema da unidade do saber, tornando “esquizofrênico” pela ciência moderna, na medida em que compartimentalizado. O resultado dessa fragmentação é que o homem se torna o grande ausente da ciência.
Por isso, a reflexão empreendida pela filosofia não pode ser desinteressada, neutra, nem uma ocupação separada do que ocorre no mundo. Ela tem um compromisso com a investigação a propósito dos fins e das prioridades a que a ciência se propõe, bem como com a análise das condições em que se em que se realizam as pesquisas e das conseqüências das técnicas utilizadas.
No desempenho desse papel, o filósofo não aparece com respostas prontas e um saber acabado, nem é aquele que deverá nortear os rumos da ciência. Em um mundo de certezas propostas pelo ideal do conhecimento objetivo. O filósofo é o que, segundo Merleau-Ponty, acredita na sua própria desordem interior e por isso acredita na busca segundo a qual sempre haverá coisas para se ver e dizer.


IDEOLOGIA

1. O que é ideologia?

Introdução conceitual

Há vários sentidos para a palavra ideologia. Em sentido amplo, é o conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão.
Quando perguntamos qual é a ideologia de um determinado pensador, podemos estar nos referindo á sua doutrina, ao corpo sistemático de suas idéias e ao seu posicionamento interpretativo diante de determinados fatos.
Podemos ainda estar nos referindo á teoria, como organização sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a prática, a ação efetiva. Nesse sentido já ouvimos a expressão “atestado ideológico”, que é a declaração exigida a um indivíduo sobre sua filiação partidária e idéias que orientam sua ação política. No Brasil, por exemplo, durante o recrudescimento do poder autoritário, órgãos como o DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) exigiam em certas circunstâncias que as pessoas apresentassem atestados desse tipo, a fim de controlar a adesão ás ideologias marxistas, consideradas perigosas á segurança nacional.
Em sentido pejorativo, ideologia é o conjunto de idéias e concepções sem fundamento, mera análise ou discussão oca de idéias abstratos que não correspondem a fatos reais.
Há outros sentidos mais específicos, elaborados por autores como Destutt de Tracy, Comte, Durkheim.
Aqui, no entanto, não usaremos o conceito de ideologia em nenhum desses sentidos. Vejamos então.
“A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças á divisão da sociedade em classes, á partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças como de classes e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado.”Fundamentalmente, a ideologia é um corpo sistemático de representação e de normas que nos “ensinam” a conhecer e a agir.
A ideologia tem como função assegurar uma determinada relação dos homens entre si e com suas condições de existência, adaptando os indivíduos ás tarefas prefixadas pela sociedade. Portanto, a ideologia assegura a coesão dos homens e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco recompensadoras, em nome da “vontade de Deus” ou do “dever moral” ou simplesmente como decorrente da “ordem natural das coisas”.
É interessante observar que não se trata de uma “mentira” que os indivíduos da classe dominante “inventam” para subjugar a classe dominada. Também eles sofrem a influência da ideologia, o que lhes permite exercer como natural sua dominação, aceitando como universais os valores específicos de sua classe. Os missionários que acompanhavam os colonizadores ás terras conquistadas, certamente não percebiam o caráter ideológico da sua ação ao querer implantar uma religião e uma moral estranhas ao povo dominado.
Essa universalidade das idéias e dos valores é abstrata porque na realidade concreta o que há são classes particulares com interesses divergentes, e a ideologia de uma “sociedade harmoniosa e una” oculta a divisão de classes. Portanto, a universalização e a abstração supõem uma lacuna ou o ocultamento de alguma coisa que não pode ser explicitada sob pena de desmascaramento da ideologia. Isto é, sob o aparecer da ideologia existe uma realidade concreta que precisa ser descoberta pela análise de gênese do processo, ou, seja, pela verificação de como a realidade foi produzida.
Por exemplo, quando se diz que “o trabalho dignifica o homem”, estamos diante de um conceito ideológico, na medida em que se trata:

• de uma abstração, já que o trabalho se apresenta como uma “idéia de trabalho”, e a análise da situação concreta e particular da realidade histórico-social em que os operário realizam seu trabalho mostra exatamente o contrário: o embrutecimento e reificação (“coisificação”) do homem, e não a sua dignidade.

• de uma lacuna, pois, analisando a gênese do trabalho assalariado, descobrimos a mais-valia e, portanto, o componente que leva á alienação do homem e á diferença de condição de vida das pessoas na “comunidade”.

Outro exemplo: “A educação é um direito de todos” (e até um dever, já que há obrigatoriedade legal de se completar o curso primário). Essa afirmação é abstrata e lacunar, pois apresenta como universal um valor que beneficia apenas uma classe. Quando observamos as estatísticas que mostram evasão e o baixo índice de freqüência escolar por parte das classes desfavorecidas, são comuns as “explicações” em função das dificuldades de adaptação, do mercado de trabalho e até do desinteresse ou preguiça. O que está oculto aí é que na sociedade de classes há uma contradição entre os que produzem a riqueza material e cultural com seu trabalho e os que usufruem essas riquezas, excluindo delas os produtores. Assim, a educação é um dos bens a serem usufruídos pelos componentes da classe dominante. A educação aparece como um direito de todos, mas analisando a gênese da produção e usufruto dos bens, descobre-se que de fato a educação está restrita a uma classe.
Além disso, a ideologia mostra uma realidade invertida, ou seja, o que seria a origem da realidade é posto como produto e vice-versa. Por exemplo, a ideologia burguesa afirma que existem nos homens diferenças individuais e que estas determinam a desigualdade social: a desigualdade natural seria a causa da desigualdade social. Ora, a sociedade é na verdade resultado da práxis, e as desigualdades sociais estabelecidas pela divisão do trabalho e pelas relações de produção e determinam (são causas) das desigualdades individuais. Não estamos querendo desconsiderar as diferenças que de fato existem entre os indivíduos, como interesses, aptidões, inteligência. Mas, grosso modo, a atividade a que cada um se submete aparece como decorrente da competência e não com resultado da divisão de classes (lembremos ainda que a própria divisão de classes não deve ser vista como um “dado” inicial, mas como o resultado de práxis ).
Mais um exemplo: se um filho de operário não melhora o padrão de vida, isto é explicado como resultado da sua incompetência, falta de força de vontade ou disciplina de trabalho, quando na realidade ele joga um “jogo de cartas marcadas”, e suas chances de melhorar não dependem dele, mas da classe que detém os meios de produção.
Outra inversão própria da ideologia é a maneira pela qual se estabelecem as relações entre teoria e prática, colocando a teoria como superior á causa da ação humana (e não ao contrário).
Essa divisão hierárquica entre o pensar e o agir se encontra também na dicotomia da sociedade em um segmento que se dedica ao trabalho intelectual e outro, ao trabalho manual. Uma classe “sabe pensar”; a outra “não sabe pensar” e só executa. Portanto, uma decide, porque sabe, e a outra obedece.


O que caracteriza o discurso não ideológico?


Se o discurso ideológico é abstrato e lacunar, faz uma análise invertida da realidade e separa o pensar e o agir, o discurso não ideológico será aquele que visa o preenchimento das lacunas pela procura da gênese do processo. Isso não significa que se deva contrapor ao discurso lacunar um discurso “pleno”, mas a elaboração de uma crítica, de um contradiscurso que revele a contradição interna do discurso ideológico e que o faça explodir. É esse o papel da teoria que não se confunde com o papel da ideologia, pois a teoria está encarregada de desvendar os processos reais e históricos que originam a dominação de uma classe sobre outra, enquanto a ideologia visa exatamente o contrário, ou, seja, a dissimulação dessa diferença.
Além disso, a teoria estabelece uma relação dialética com a prática, ou seja, uma relação de reciprocidade e simultaneidade, e não uma relação hierárquica, como no discurso ideológico.
Explicando melhor: a práxis é justamente a relação indissolúvel teoria-prática, de modo que não há agir humano que não tenha sido antecedido por um projeto, da mesma forma que a teoria não é algo que, se produza independentemente da prática, pois o seu fundamento é a própria prática. Nós reconhecemos as coisas na medida em que as produzimos, daí toda teoria ser lacunar, sem “vai e vem” entre o fato e o pensado.
Ora, o saber que decorre da produção é um saber instituinte e, nesse sentido, é “vivo”, móvel, com toda a força do processo de se fazer. O saber ideológico é o saber instituído, petrificado, esclerosado, morto.
Não é simples, no entanto, o trabalho de desvelamento do real, pois a ideologia penetra em setores insuspeitáveis: na educação familiar e escolar, nos meios de comunicação de massa, nos hospitais psiquiátricos, nas prisões, nas indústrias, impedindo de todas as formas a flexibilidade entre o pensar e o agir e, ao contrário, determinando a repetição de fórmulas prontas e acabadas.
Por isso, é importante o papel da filosofia como crítica da ideologia, rompendo as estruturas petrificadas que justificam as formas de dominação. Ainda neste capítulo, examinaremos rapidamente a ideologia subjacente aos textos didáticos de 1º. Grau, ás histórias em quadrinhos e á propaganda.
Por questão de espaço, não estudaremos as importantes reflexões de Michel Foucault, filósofo francês contemporâneo, cujos estudos apontam para o caráter ideológico do sistema carcerário e dos hospícios. Na sua História da loucura, critica a moderna concepção de loucura, mostrando como ela foi elaborada a partir do século XVII. Há também os trabalhos teóricos e práticos de psiquiatras como italiano Basaglia e os ingleses Laing e Cooper, com as propostas da antipsiquiatria.
Tais discussões controvertidas têm sido sujeitas a um debate fermentado que, supomos, deverá por em questão concepções tradicionais a respeito desse assunto.


LÓGICA


O filósofo não é aquele que afirma monologia, mas aquele que argumenta e dialoga


LÓGICA FORMAL


1 - Introdução:

Michel Foucault, filósofo francês contemporâneo, refere-se a um texto do poeta Jorge Luis Borges onde este transcreve a seguinte classificação “encontrada numa certa enciclopédia chinesa”:
“Os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados , d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo, l) et coetera, m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas”
Passado o riso ou o espanto, podemos ver essa “classificação” nos incomoda porque não podemos pensá-la. Percebemos que há uma mistura de assuntos e tentamos “pôr ordem na casa”, restabelecendo um critério único. Queremos aproximar e distinguir os animais pelas suas semelhanças e diferenças, buscando uma coerência de princípio. Isso significa que, ao tentarmos compreender a realidade, procuramos formas corretas para pensa-la.
A filosofia, no correr dos séculos, sempre se preocupou com o conhecimento, formulado a esse respeito várias questões: Qual a origem do conhecimento? Qual a sua essência? Quais os tipos de conhecimento? Qual o critério da verdade? É possível o conhecimento?
Vejamos como a lógica trata do assunto: a ela não interessa nenhuma das perguntas anteriores, mas apenas dar as regras do pensamento correto. A lógica é, portanto uma disciplina propedêutica; é o vestíbulo da filosofia, ou seja a ante-sala, o instrumento que vai permitir o caminhar o caminhar rigoroso do filósofo ou do cientista.
Para Aristóteles, a lógica é a “ciência da demonstração”; Maritain a define como “a arte que nos faz proceder, com ordem, facilmente e sem erro, no ato próprio da razão”; para Liard é “a ciência das formas do pensamento” Poderíamos ainda acrescentar: “da conseqüência e da verdade da argumentação”; das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura e demonstração da verdade”.
Etimologicamente, lógica, vem do grego logos, que significa “palavra”, “expressão”, “pensamento”, “conceito”, “discurso”, “razão”.
Antes, porém, de iniciarmos o estudo da lógica propriamente dita, vamos fazer um vocabulário básico de alguns conceitos usados comumente na conversa diária e cujo sentido precisa ser discutido.

• Particular - conceito que se refere a alguns indivíduos de uma espécie. Lembre-se que a própria palavra particular supõe um todo do qual se considera só uma parte. Exemplos: alguns homens, várias pessoas, muitos cães.

• Geral - conceito que se refere á totalidade de indivíduos de uma espécie; que é atribuível a todos os componentes de um grupo espécie ou gênero. Quando usamos os conceitos “homem”, “pessoa”, “cão”, nos referimos a todos os homens, todas as pessoas, todos os cães.

• Subjetivo e objetivo - como geralmente as pessoas confundem o significado de particular e subjetivo, vamos tentar distingui-los. Há conhecimentos subjetivos e objetivos. Os subjetivos são os que dependem do ponto de vista pessoal, individual, que não são fundados no objeto, mas condicionados somente por sentimentos ou afirmações arbitrárias do sujeito. Os objetivos são fundados na observação imparcial, são independentes das preferências individuais. Assim, por exemplo, subjetivamente podemos não gostar de uma pessoa, mas analisando imparcialmente suas atitudes num determinado setor, o profissional, por exemplo, podemos considerá-lo competente. O que torna esta afirmação objetiva é, sobretudo o fato de ela poder ser comprovada por outras pessoas, havendo então confronto de opiniões. Portanto, quando dizemos particular ou geral, referimo-nos ao objeto que conhecemos e se o consideramos em parte ou na totalidade. Quando dizemos subjetivo ou objetivo, referimo-nos ao ponto de vista do sujeito que conhece e que, num caso, se acha centrado em si próprio e, em outro caso, está descentrado. Mais tarde, quando estudarmos as características da ciência, veremos que ela procura incessantemente essa descentralização, essa objetividade.

• Imagem e conceito - Vamos supor que estamos numa sala e á nossa frente vemos um cinzeiro de vidro transparente e de forma hexagonal. Agora fechamos os olhos e temos a representação mental do cinzeiro, tal como o acabamos de ver. Temos aí a imagem do cinzeiro, a qual, mesmo sendo uma representação mental, é de natureza sensível e, de certa forma, concreta e particular, porque, a representação intelectual de um objeto e, portanto, é imaterial, abstrata e geral. No caso do conceito de cinzeiro, não interessa que ele seja de vidro transparente ou que tenha hexagonal, mas que tenha apenas as características essenciais que o façam cinzeiro, isto é, um objeto para recolher cinzas. Para entender melhor, vejamos o que significa abstração.

• Abstração - abstrair significa “isolar”, “separar de”. Fazemos uma abstração quando isolamos, separamos, um elemento de uma representação, o qual não é dado separadamente na realidade (representação significa a “coisa” enquanto presente no espírito). Assim, no exemplo do cinzeiro, cada cinzeiro real tem uma determinada forma e cor, mas fazemos abstração, isolamos essas características por serem secundarias, e consideramos apenas o “ser cinzeiro”. Da mesma forma, o matemático reduz as coisas que tem peso, dureza, cor, para só considerar a quantidade. Por exemplo, quando você diz 2, está considerando apenas o número, deixando de lado se são duas pessoas ou duas frutas. A lei cientifica também é abstrata. Quando dizemos que o calor dilata os corpos, estamos fazendo abstração das características que distinguem cada corpo, para considerar apenas os aspectos comuns àqueles corpos, ou seja, o “corpo em geral” enquanto submetido á ação do calor.


2. A Lógica aristotélica (ou lógica clássica)


A Grécia clássica aparece historicamente como berço da filosofia. Por volta do século VI a.C., os primeiros filósofos pré-socráticos redigiam em prosa um discurso que pretendia se opor á atitude mítica predominante nos poemas de Homero e Hesíodo. Esse novo modo de pensar é decomposto na sua estrutura por Aristóteles (séc. IV a. C.) na obra Analíticos. Como o próprio nome diz, trata-se de uma ánalise do pensamento nas suas partes integrantes. Essa e outras obras sobre o assunto foram denominadas mais tarde, em conjunto, órganon, que significa “instrumento” (de fato, é o instrumento para se proceder corretamente no pensar). O próprio Aristóteles não usou a palavra lógica, que só apareceu mais tarde.
Embora alguns filósofos anteriores a Aristóteles tenham estabelecidos algumas leis do pensamento (Parmênides, os sofistas, Sócrates e Platão), nenhum o fez com tal amplitude e rigor. E foi assim que a lógica aristotélica permaneceu através dos séculos até os nossos dias.
Segundo Aristóteles, a lógica se subdivide em:

• Lógica formal (ou menor), que estabelece a forma correta das operações do pensamento. Se as regras foram aplicadas adequadamente, podemos concluir automaticamente.

• Lógica Material (ou maior) é a parte lógica que trata da aplicação das operações do pensamento segundo a matéria ou natureza dos objetos a conhecer. É também chamada metodologia, e como tal procura o método próprio de cada ciência.

Não pretendemos fazer um estudo da lógica, mas apenas apresentar alguns de seus conceitos mais importantes, cujo esclarecimento poderá nos auxiliar neste livro.
Como vimos, segundo Aristóteles, a lógica estuda a razão como instrumento da ciência ou meio de adquirir e possuir a verdade. E qual é o ato próprio da razão como tal? É o ato de raciocinar (ou argumentar)
O que é raciocínio? “È um tipo de operação discursiva do pensamento, consistente em encadear logicamente juízos e deles tirar uma conclusão”.Essa operação é discursiva porque vai de uma idéia ou de um juízo a outro passando por um ou vários intermediários e exige o uso de palavras. Portanto, é um conhecimento mediato, isto é, procede por meio de alguma coisa.




Por exemplo:

Toda baleia é mamífero.
Ora, nenhum mamífero é peixe.
Logo, a baleia não é peixe.

Trata-se de um ato complexo, em que se dá o encadeamento de atos distintos e ordenados entre si chamados juízos (ou proposições). No exemplo, há três proposições, sendo que a última, chamada conclusão, deriva “logicamente” das duas anteriores, chamadas premissas (etimologicamente que foram “colocadas antes”). Cada posição, por sua vez, é formada por idéias (ou conceitos ou termos). Por exemplo: “baleia”, “mamífero” e “peixe”.

O termo

Voltemos agora ao exemplo do raciocínio dado (o argumento da baleia): distinguimos aí os termos, que são os três conceitos (de baleia, mamífero e peixe). Em lógica, o termo é uma simples apreensão; é o ato pelo qual a inteligência atinge ou percebe alguma coisa, sem dela nada afirmar ou negar.

A proposição

A proposição é a representação lógica do juízo. Juízo é o ato pelo qual a inteligência afirma ou nega a identidade representativa de dois conceitos.

Exemplos:
O homem é livre. (afirmação)
O homem não é mineral. (negação)


Nessas proposições encontramos três elementos:

• O sujeito - o homem.
• O predicado - na primeira é livre, na segunda é mineral.
• A cópula (ou ligação) - é sempre o verbo ser (afirmando ou negando)

As proposições se dividem quanto a quantidade e quanto a qualidade.

Quanto a quantidade, podem ser:

• Totais, gerais ou universais - quando o sujeito da proposição é tomado em sua totalidade.

Exemplo: Toda baleia é mamífero. Preste atenção, pois ás vezes usamos apenas o artigo o ou a para indicar a totalidade. Exemplo: O homem é livre. Observe também que não importa se nos referimos a uma parte: se na proposição tomamos todos os elementos que a constituem, trata-se de uma proposição geral. Por exemplo: Os paulistas são sul-americanos. Não importa que os paulistas sejam uma parte dos brasileiros. Nessa proposição nos referimos a totalidade dos paulistas.

• Particulares - quando o sujeito da proposição é tomado em apenas uma parte indeterminada. Exemplos: Alguns homens são injustos. Certas pessoas são curiosas.

• Singulares - quando o sujeito se refere a um individuo. Exemplos: Esta flor é bonita; São Paulo é uma bela cidade.

Quanto a qualidade, podem ser:

• Afirmativas: A baleia é mamífero .
• Negativas: Nenhuma baleia é peixe.


A argumentação

A argumentação é a terceira operação do espírito; é o ato pelo qual o espírito, com o que já conhece, adquire um novo conhecimento. Estabelece relações entre proposições conhecidas e delas pode tirar uma conclusão. A argumentação é uma inferência mediata. Etimologicamente, inferir é “conduzir”, “levar”; portanto, a partir de algumas proposições, somos “conduzidos” a uma conclusão. A inferência se chama também ilação.

Dedução

Dedução é uma inferência que vai dos princípios para uma conseqüência logicamente necessária.
A matemática usa, sobretudo processos de raciocínio dedutivos. Uma proposição matemática é demonstrada quando a deduzimos de proposições já admitidas como verdadeiras, quando fazemos ver que a conclusão decorre necessariamente das proposições colocadas anteriormente. Mas a dedução matemática não se confunde com a dedução lógica, pois devido á natureza mesma da matemática, que manipula símbolos capazes de se transformarem uns nos outros, de se substituírem, revela relações sempre imprevistas. Isso torna a dedução matemática mais fecunda, o que não ocorre com a dedução lógica.
A dedução lógica, por excelência, é chamada por Aristóteles de silogismo, que significa “ligação”: é a ligação de dois termos por meio de um terceiro. Exemplo: Se x = y e y = z, então x = z. A relação estabelecida na dedução silogística é necessária, no sentido de que tem de ser desta forma, e não de outra. Explicando: se colocarmos as premissas, a conclusão se põe necessariamente. Assim, quando dizemos “Todos os homens são mortais /Sócrates é homem/ Logo Sócrates é mortal”, a conclusão é necessária porque deriva das premissas.
É verdade que a dedução é um modelo de rigor. Mas também é estéril, na medida em que não nos ensina nada de novo, mas apenas organiza o conhecimento já adquirido. Isso não significa que a dedução não tenha valor nenhum, mas que ela não é inovadora. Condillac, filósofo francês do século XVIII, compara a lógica aos parapeitos das pontes: “impedem-nos de cair, mas não nos fazem ir adiante”. Isso significa que a conclusão diz exatamente o que as premissas já disseram. Paul Valery, poeta e ensaísta francês comenta humoristicamente que “não é a cicuta1, é o silogismo que mata Sócrates…”

Veja este raciocínio representado no esquema:


Mortais

Homens

Sócrates

Podemos ainda dizer que o silogismo é um raciocínio que parte de uma proposição geral e conclui outra proposição geral e particular. Vejamos os exemplos:

Todo brasileiro é sul-americano
Todo paulista é brasileiro.
Todo paulista e sul americano.

Todo brasileiro é sul-americano.
Algum brasileiro é índio.
Algum índio é sul-americano.




INDUÇÃO


Indução é uma argumentação em que, a partir de dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma verdade universal. Enquanto a dedução mostra como uma conclusão deriva de verdades universais já conhecidas, partindo, portanto do plano do inteligível, a indução, ao contrário, chega a uma conclusão a partir da experiência sensível, dos dados particulares. Exemplos:
Esta porção de água ferve a cem graus, e esta outra, e esta outra…; logo, a água ferve a cem graus.
O cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, e o ferro, e o zinco e a prata também…; logo, o metal (isto é, todo metal) é condutor de eletricidade.
É importante que haja uma enumeração suficiente para que possamos passar com mais segurança do particular para o geral. Mas sempre está suposta uma probabilidade, não havendo na indução o rigor da dedução. Por outro lado, trata-se de um raciocínio de descoberta: este “salto” em direção ao provável pode significar novas formas de compreender o mundo. Por isso a indução é muito fecunda nas ciências experimentais.



Analogia


Analogia (ou raciocínio por semelhança) é uma indução parcial ou imperfeita na qual passamos de um ou de alguns fatos singulares, não a uma conclusão universal, mas a uma outra enunciação singular ou particular, que inferimos em virtude de uma semelhança. Exemplo:

Paulo sarou de suas dores de cabeça com este remédio.
Logo, João há de sarar de suas dores de cabeça com este mesmo remédio.
É claro que o raciocínio por semelhança fornece apenas uma probabilidade, e não uma certeza. Mas desempenha papel importante na descoberta ou na invenção.
Grande parte de nossas conclusões diárias baseiam-se na analogia. Se lermos um bom livro de Graciliano Ramos, provavelmente compraremos outro do mesmo autor, na suposição de que deverá ser bom também. Se formos bem atendidos numa loja, voltaremos da próxima vez, na expectativa de tratamento semelhante. Da mesma forma, se formos mal atendidos, evitaremos retornar.
Quando as explicações de um determinado fato nos parecem complexas, costumamos recorrer a comparações: “Quem não habituado a ler, sofre como nadador iniciante, engole água e perde o fôlego”. Do mesmo modo, o texto literário é enriquecido pela metáfora, que é uma forma de estabelecer semelhanças: “Amor é fogo que arde sem se ver” (Camões).
Também a ciência usa analogias. A descoberta da penicilina foi acidental. Alexander Fleming estava cultivando colônias de bactérias e observou que elas morriam em torno de uma mancha de bolor formada casualmente. Investigando o novo fato, reconheceu os fungos do gênero Penicillium. Por analogia, supôs que, o bolor destruía as bactérias na cultura in vitro, poderia ser usado como medicamento para curar doenças no corpo vivo.


3 . Os sofismas


Sofismas são falsos raciocínios. Alguns estudiosos fazem distinção entre sofismas e paralogismos. Afirmam que naqueles há uma intenção de enganar e, portanto, tem um sentido pejorativo; nos paralogismos não há essa intenção. No entanto, como a distinção se baseia no aspecto psicológico, é comum usar, do ponto de vista lógico, somente a expressão sofisma. Usa-se também o termo falácia.

Vejamos os seguintes raciocínios:

a)Todos os homens são loiros. b).
.


Á primeira vista podemos dizer que o raciocínio a é falso e b verdadeiro. Não é assim tão simples. Embora a tenha a primeira premissa materialmente falsa (ou seja, o conteúdo dela não corresponde á realidade), trata-se de um raciocínio formalmente correto. Segundo as regras da lógica, se colocarmos tais premissas, a conclusão se põe necessariamente.
Por outro lado o raciocínio b, que você tende a considerar verdadeiro, é formalmente incorreto. Não importa que para você a conclusão corresponda á realidade, pois não se trata de uma construção “lógica”. Segundo uma das regras do silogismo (não vamos aqui examiná-las), o termo médio (que no caso é “vertebrado”) deve ser pelo menos uma vez total. Isto não ocorre no raciocínio b, pois os homens são alguns dentre os vertebrados, e eu sou um dos vertebrados. Talvez você continue não se convencendo. Vejamos então o que ocorre se substituirmos o sujeito “eu“ por “meu gato”:


Todos os homens são vertebrados.
Meu gato é vertebrado.
Logo, meu gato é homem.


Os exemplos a e b são sofismas, sendo a um sofisma quanto á matéria, embora formalmente correto, e b um sofisma quanto á forma.
Sempre que um raciocínio fere uma das regras do silogismo, por exemplo, redunda em sofisma.
Mas há também sofismas com a “petição de princípio”, ou círculo vicioso, que consiste em supor já conhecido o que é objeto da questão. Por exemplo: “Por que o ópio faz dormir? Porque tem uma virtude dormitiva” ou “Tal ação é injusta porque é condenável. E é condenável porque é injusta”.



Outro tipo de sofisma é a “ignorância da questão”, que consiste em se afastar da questão desviando a discussão para outro lado. Por exemplo: um advogado habilidoso que não tem como negar o crime do réu enfatiza que ele é bom filho, bom marido, trabalhador etc.; um vereador acusado de ter gasto sem autorização da Câmara põe em relevo a importância e urgência dos gastos.


Pode ser também um sofisma por acidente, que consiste em considerar essencial algo que não passa de acidente, como, por exemplo, concluir que a medicina é inútil devido ao erro de um médico.
O sofisma de conversão consiste em converter simplesmente uma proposição universal que não seja definição. Por exemplo: Todos os mamíferos são vertebrados; logo, todos os vertebrados são mamíferos.



4. O que é intuição?


Enquanto o raciocínio é um conhecimento mediato, no sentido de que se faz por meio de conceitos e juízos que, encadeados, levam a uma conclusão, a intuição é um tipo de conhecimento imediato, isto é, feito sem intermediários, um pensamento atualmente presente ao espírito. Como a própria palavra indica (tueri em latim significa “ver”), intuição é uma visão súbita. Enquanto o raciocínio é discursivo e se faz por meio da palavra, a intuição é inefável, inexprimível: como poderíamos explicar em que consiste a sensação do vermelho?
Se a lógica organiza o pensamento, a intuição, por outro lado, é importante por ser o ponto de partida do conhecimento, a possibilidade da invenção, da descoberta, dos grandes “saltos” do saber humano.
Partido de uma divisão muito simplificada, a intuição pode ser de vários tipos:

• Intuição sensível - é o conhecimento imediato que nos é dado pelos órgãos dos sentidos: sentimos que faz calor; vemos que a blusa é vermelha.

• Intuição racional - quando afirmamos que o vermelho e o verde são distintos ou quando
dizemos que o todo é maior que à parte.

• Intuição psíquica - a intuição simples do eu pelo eu.


• Intuição mística - fala-se dos “eleitos” que vêem Deus diretamente.


• Intuição adivinhadora ou inventiva - é a do sábio, do artista, do cientista, quando repentinamente descobrem uma nova hipótese, um tema original, uma invenção.


• Intuição Metafísica – é a que permite apreender diretamente, por exemplo, o absoluto de uma substância, como o cogito de Descartes. Também aparece quando Pascal diz “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Esta intuição existe também em Bergson e na fenomenologia.



2ª Parte

FILOSOFIA MORAL

Introdução á moral
“A verdadeira moral zomba da moral”. (Pascal)




1. Introdução

Quando olhamos as pessoas e as coisas, estamos constantemente fazendo juízos de valor. Esta caneta é ruim, pois falha muito. Esta moça é atraente. Este vaso pode não ser bonito, mas foi presente de uma pessoa que estimo bastante; por isso, cuidado para não quebrá-lo! Gosto tanto de dia chuvoso, quando não preciso sair de casa! Acho que João agiu mal não ajudando você.
Isso significa que fazemos juízos de realidade, dizendo que esta caneta, esta moça, este vaso existem, mas também fazemos juízos de valor, pois descobrimos nessas realidades um conteúdo que mobiliza nossa atração ou nossa repulsa. Nos exemplos, referimo-nos a valores que encarnam a utilidade, a beleza, a bondade.
Estes valores são, num primeiro momento, herdados por nós.
Vimos que o mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de tal modo que aprendemos desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de estranhos; como, quando e quanto falar em determinadas circunstâncias; como andar, correr, brincar; como cobrir o corpo e quando desnuda-lo; qual o padrão de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme atendemos ou transgredimos certos padrões, nossos comportamentos são avaliados como bons ou maus.
A partir daí, as pessoas podem nos recriminar por não termos seguido as normas da boa educação ao não ter cedido lugar a uma pessoa mais velha; ou nos elogiar por sabermos escolher as cores mais bonitas para a decoração de um ambiente; ou nos admoestar por termos faltado com a verdade. Nós próprios podemos nos alegrar ou sentir remorsos por uma ação praticada. Isso quer dizer que o resultado de nossos atos está sujeito à sanção, ou seja, à recompensa ou à punição, nas mais diversas intensidades, desde “aquele” olhar da mãe até a coerção física (isto é, a repressão pelo uso da força).
Embora haja diversos tipos de valores (econômico, vitais, lógicos, éticos, estéticos, religiosos), vamos considerar aqui apenas os valores éticos ou morais.
A ética ou filosofia moral é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito dos fundamentos da vida moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas direções, dependendo da concepção de homem que se toma como ponto de partida. Então, à pergunta “o que é o bem e o mal?”, respondemos diferentemente, se o fundamento da moral estiver na ordem cósmica, na vontade de Deus ou nenhuma ordem exterior à própria consciência humana.
Podemos perguntar ainda: Há uma hierarquia de valores? Se houver, o bem supremo é a felicidade? É o prazer? É a utilidade?
Por outro lado, é possível questionar: Os valores são essências? Têm um conteúdo determinado, universal, válido em todos os tempos e lugares? Ou, ao contrário, são relativos “verdade aquém, erro além dos Pireneus”, como dizia Pascal? Ou, ainda, haveria possibilidade de superação dessas duas posições contraditórias?
As respostas a essas e outras questões nos darão as diversas concepções de vida moral elaboradas pelos filósofos através dos tempo.

Caráter histórico e social da moral

Inicialmente, consideremos a moral como o conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos na sociedade.
Exterior e anterior ao indivíduo, há uma moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de normas. Em função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral ou imoral.
É de tal importância à existência do mundo moral, que se torna impossível imaginar um povo sem qualquer conjunto de regras. Podemos dizer que uma das características fundamentais do homem é ser capaz de produzir interdições. O antropólogo francês Lévi-Strauss, analisando os povos primitivos, mostra como a passagem do reino animal ao reino humano, ou seja, a passagem da natureza à cultura, é produzida pela instauração da lei, por meio da proibição do incesto. Com isso se estabelecem as relações de parentesco e as de aliança, sobre as quais se constrói o mundo humano, que é simbólico.
Vimos, que o homem, a fim de garantir sua sobrevivência, submete a natureza por meio do trabalho coletivo. Para que este se torne possível, surge a moral, com a finalidade de garantir a concordância entre os indivíduos.
Portanto, o comportamento varia de um lugar para outro, de um tempo para outro, conforme as exigências das condições nas quais os homens se organizam ao estabelecerem as formas efetivas e práticas de trabalho. E cada vez que as relações de produção são alteradas, sobrevêm modificações nas exigências das normas do comportamento coletivo.
Por exemplo, a Idade Média se caracterize pelo regime feudal, baseado numa rígida hierarquia de suseranos, vassalos e servos. O trabalho era garantido pelos servos, possibilitando aos nobres uma vida de ócio e de guerra. A moral cavalhereiresca que daí deriva residia no pressuposto da fidelidade da classe dos nobres, exaltando a virtude de lealdade e da fidelidade suporte do sistema de suserana, bem como a coragem do guerreiro. Em contraposição, o trabalho era desvalorizado e restrito aos servos. Essa situação se alterou com o aparecimento da burguesia, a qual, formando uma classe de trabalhadores oriunda da liberação dos servos, estabeleceu novas relações de trabalho, fazendo surgir novos valores, ou seja, a valorização do trabalho e a crítica á ociosidade.


Caráter pessoal da moral


Mas a moral não se deduz a isso que dissemos até agora. Á medida que os grupos primitivos abandonam a abrangência da consciência mítica, iniciando um maior questionamento racional, e medida que a criança se aproxima da adolescência, desenvolvendo o pensamento abstrato e a reflexão crítica, todos os valores herdados são colocados em questão.
O aumento do grau de consciência e de liberdade, e, portanto de responsabilidade pessoal no comportamento moral, introduz um elemento contraditório que irá, o tempo todo, angustiar o homem: a moral, ao mesmo tempo em que é o conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos de um grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas.
Isso significa que um ato só é propriamente moral se passar pelo crivo da aceitação pessoal da norma. Á exterioridade da moral contrapõe-se a necessidade da interioridade, da adesão mais íntima.
Cada um sabe, por experiência pessoal, como isso é penoso, pois supõe a descoberta de que as normas, adequadas para um certo momento, tornam-se caducas e absoletas, e devem ser mudadas. As contradições entre o velho e o novo são vividas quando as relações estabelecidas entre os homens, ao produzirem a sua existência por meio do trabalho, exigem um novo código de conduta. Essa cisão também pode ocorrer no próprio individuo, á partir do enredo do seu “drama” pessoal. Mesmo não havendo necessidade de mudança, a singularidade do ato moral nos coloca em situações originais em que só o individuo livre e responsável é capaz de decidir. Há certas “situações-limites”, tão faladas pelo existencialismo, em que regra alguma é capaz de orientar a ação.


Caráter social e pessoal da moral

Estamos diante de dois pólos contraditórios. Se aceitamos como predominante o caráter social da moral, inevitavelmente caímos no dogmatismo e no legalismo. Isto é, atribuímos um valor maior á lei e aos regulamentos caracterizando o ato moral como aquele que se adapta á norma estabelecida. Uma “educação” moral nesse sentido residiria apenas em inculcar nas pessoas o medo ás conseqüências da não-observância da lei.
Trata-se de uma vivência moral empobrecida: é o que chamamos de farisaísmo. Há uma passagem bíblica em que um fariseu (membro de uma seita religiosa) louva o seu próprio comportamento, agradecendo a Deus por não ser “como os outros” que transgridem as normas. Esse formalismo muitas vezes está ligado á pretensão e á hipocrisia.
Por outro lado, se aceitarmos como predominante a interrogação do indivíduo que põe em dúvida a regra, corremos o risco de destruir a moral, pois, se ela depender exclusivamente da sanção pessoal, recairá num individualismo e, consequentemente, na ausência de princípios. Ora, o homem não é um ser solitário, um Robinson Crusoé numa ilha deserta, mas “con-vive” com as pessoas, e qualquer ato seu compromete os que o cercam.
Portanto, é preciso considerar esses dois pólos contraditórios em uma relação dialética, ou seja, uma relação de determinismo e de liberdade; uma relação ao mesmo tempo de exclusão e de implicação recíproca; uma relação de determinismo e de liberdade; uma relação de adaptação e de desadaptação á norma; uma relação de aceitação e de recusa da interdição.
O homem, ao mesmo tempo em que é herdeiro, é criador de cultura, e só terá uma vida autêntica se diante da moral constituída, for capaz de propor uma moral constituinte, isto é, a que se faz dolorosamente e por meio das experiências vividas.
Nessa perspectiva, a moral não pode recusar a ambigüidade fundamental justamente a que determina o seu caráter histórico. Toda moral está situada num tempo e reflete um mundo em que a nossa liberdade se acha situada. Diante desse passado que condiciona nossos atos, podemos nos colocar á distância para reassumi-lo ou recusá-lo. A historicidade do homem não reside na sua mera continuidade no tempo, mas é a consciência ativa do futuro, pela qual se torna possível a criação original por meio de um projeto de ação que tudo muda.


Estrutura do ato moral

Vmos que a instauração do mundo moral exige do homem uma consciência crítica, a qual passaremos a chamar de consciência moral. Trata-se do conjunto de exigências das prescrições que reconhecemos como válidas para orientar a nossa escolha; é essa a consciência que vai discernir o valor moral dos nossos atos.
Percebemos, então, que o ato moral é constituído de dois aspectos: o normativo e o fatual.
O normativo são as normas ou regras de ação e os imperativos que enunciam o “dever ser”.
O fatual são os atos humanos enquanto se realizam efetivamente.
Pertencem ao âmbito do normativo regras como: “cumpra a sua obrigação de estudar”; “não minta”; “Não mate”. O campo do fatual é a efetivação ou não da norma na experiência vivida. Esses dois pólos são distintos mas inseparáveis. A norma só tem sentido se orientada para a prática, e o fatual só adquire contorno moral quando se refere á norma.
Assim, o ato efetivo será moral ou imoral,conforme esteja de acordo ou não com a norma estabelecida. Por exemplo, diante da norma “Não minta”, o ato de mentir será considerado imoral. Convém lembrar aqui a discussão estabelecida anteriormente a respeito do social e pessoal na moral. Nesse caso estamos considerando que o ato só pode ser moral ou moral se o indivíduo introjetou a norma e a tornou sua, livre e conscientemente.
Por outro lado, considera-se amoral o ato que se realiza á margem de qualquer consideração a respeito das normas. Trata-se da redução ao fatual, negando o normativo. O homem “sem princípios” quer pautar sua conduta a partir de situações do presente e ao sabor das decisões momentâneas, sem nenhuma referência a valores. É a negação da moral.
Abrindo um parêntese, convém distinguir a postura amoral da não-moral. Por exemplo, quando fazemos a avaliação estética de um livro, é preciso que ela não seja “contaminada” por questões morais, pois o critério exigido no caso é o dos valores estéticos; a postura do crítico deve ser não-moral, não no sentido de que ele próprio não tenha princípios morais nem no de a própria obra não possa ser imoral, mas no de que, naquele momento, o que está sendo observado é o valor da obra como arte. As discussões a respeito do que é uma obra pornográfica ou não se não se encontram muitas vezes prejudicadas por esta intromissão da moral em campos onde não foi chamada, o que justifica indevidamente a ação da censura.


O ato voluntário


Se o que caracteriza fundamentalmente o agir humano é a capacidade de antecipação ideal do resultado a ser alcançado, concluímos que é isso que torna o ato moral propriamente voluntário, ou seja, um ato de vontade que decide pela busca do fim proposto.
Nesse sentido, é importante não confundir desejo e vontade. Não “mandamos” no desejo: ele surge em nós com toda a sua força e exige a sua realização; é algo que se impõe e, portanto, não é resultado de uma escolha. Seguir o impulso do desejo sempre que ele se manifesta é a negação da moral e da possibilidade de qualquer vida em sociedade. Aliás, não é essa a aprendizagem da criança, que, a partir da tirania do desejo, deve chegar ao controle de desejo? Observe que não estamos dizendo repressão do desejo. A repressão é uma força extrema que coage. O controle supõe a autonomia do sujeito que escolhe entre os seus desejos, os hierarquiza diz: “Este fica para depois”;”Aquele não devo realiza nunca”; “Este realizo agora com muito gosto”…


O ato responsável

A complexidade do ato moral reside no fato de que ele provoca efeitos não só na pessoa mas naqueles que a cercam e na própria sociedade como um todo.
Portanto, para que um ato seja considerado moral, ele deve ser livres, conscientes, intencionais, mas também é preciso que não seja um ato solitário.
Dessas características decorre a exigência da responsabilidade. Responsável é aquele que responde por seus atos, isto é, o homem consciente e livre age e assume a autoria do seu ato, reconhecendo-o como seu e respondendo pelas conseqüências dele.
Tal envolvimento não deve ser entendido como algo superficial e exterior ao homem, mas como um compromisso em que o ato deriva do ser total do homem, como uma “promessa” pela qual ele se encontra vinculado á comunidade.


O dever e a liberdade

Vimos que o comportamento moral é consciente, livre e responsável. É também obrigatório, cria um dever. Mas a natureza da obrigatoriedade moral não reside na exterioridade; é moral justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a necessidade do cumprimento da norma. Pode parecer paradoxal, mas a obediência á lei livremente escolhida não é prisão; ao contrário, é liberdade.
A consciência moral, como um juiz interno, informa-se da situação, consulta as normas estabelecidas, interioriza-as como suas ou não, toma as decisões e julga seus próprios atos. O compromisso humano que daí deriva é a obediência á decisão. No entanto, esse compromisso não exclui a não-obediência, que justamente determinará o caráter moral ou imoral do nosso ato. Por isso o filósofo existencialista Gabriel Marcel diz: “O homem livre é o homem que pode prometer e pode trair”. Isso significa que, para sermos realmente livres, devemos ter a possibilidade sempre aberta da transgressão da norma, mesmo daquela que nós mesmos escolhemos.
Para entendermos melhor, vamos considerar as noções de heteronomia e autonomia.
A palavra heteronomia ( hetero, “diferente”, e nomos, “lei”) significa a aceitação da norma que é nossa, que vem de fora, quando nos submetemos aos vossos valores da tradição e obedecemos passivamente aos costumes por conformismo ou por temor á reprovação da sociedade ou deuses. É característica do mundo infantil viver na heteronomia.
A autonomia (“auto-próprio”) não nega a influência externa, os condicionamentos e os determinismos, mas recoloca no homem a capacidade de refletir sobre as limitações que lhes são impostas, a partir das quais orienta sua ação. Portanto, quando decide pelo dever de cumprir uma norma, o centro da decisão é ele mesmo, a sua própria consciência moral. Autonomia é autodeterminação.


A virtude


Há outro aspecto da conduta moral que exige nossa atenção. Uma vida autenticamente moral não se resume a um ato moral, mas é a repetição e continuidade do agir moral. Aristóteles afirmava que “uma andorinha, só não faz verão”, para dizer que o agir bem não deve ser ocasional e fortuito, mas deve se tornar um hábito, fundado no desejo de continuidade e na capacidade de perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida moral se condensa na vida virtuosa.
O que é virtude? Etimologicamente, virtude vem da palavra latina vir, que designa o homem, o varão. Virtus é “poder”, “potência” (ou possibilidade de passar ao ato). A idéia de “virilidade” está ligada á idéia de força, de poder. Virtuose é aquele capaz de exercer uma atividade ao nível de excelência.
Em todos esses sentidos persiste a idéia de força, de capacidade. Em moral, a virtude do homem é a força com a qual ele se aplica ao seu dever e o realiza. A virtude é a permanente disposição para querer o bem, o que supõe a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação.
No entanto, observando a historia dos filósofos, podemos ver que há diversas posições a respeito do que é considerado virtude.
Na Grécia antiga, o homem dos tempos homéricos considera virtuoso o guerreiro belo e bom, sendo a coragem sua principal virtude. Já o ideal sofista se encarna no cidadão cuja virtude se encontra na justiça.
No século V a.C., Platão, ao considerar o corpo como um empecilho para ação da razão, mostra a virtude como esforço de purificação das paixões. O compromisso do homem virtuoso está vinculado á razão que determina a ascese, o domínio do corpo.
Para Aristóteles, a virtude é a eqüidistância entre dois vícios; um por excesso, outro por falta. Esta “áurea mediocridade” (que não deve ser confundida com a mediocridade do homem comum) que consiste em saber escolher prudentemente o justo meio, a proporção, a medida; assim, a coragem é o meio termo entre a temeridade (excesso) e a covardia (falta).
Na tradição cristã, valoriza-se o amor a Deus, manifestado nas várias formas de amor ao próximo. A ordem sobrenatural tem primazia sobre o humano, e toda a ação é orientada no sentido da contemplação de Deus e da vida eterna.
Para os iluministas do século XVIII, a virtude consiste em agir segundo a natureza. Para Kant, é a força moral da vontade de um homem no cumprimento do seu dever.
No século XIX, Nietzsche faz a crítica de tudo quanto já se falara sobre moral e virtude e preconiza a “transmutação de todos os valores”. Denuncia a falsa moral, “decadente”, “de rebanho”, “de escravos”, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo. Contrapõe a ela a moral “de senhores”, uma moral positiva que visa a conservação da vida e dos seus instintos fundamentais.


Nietzsche: a transmutação de todos os valores

No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) empreende uma crítica radical á moral. Em diversas obras, como em Sobre a genealogia da moral. Para além de bem e mal e Crepúsculo dos ídolos, faz em estilo apaixonado e mordaz a análise histórica da moral e afirma a incompatibilidade entre moral e a vida. Em outras palavras, o homem, sob o domínio da moral, se enfraquece, tornando-se doentio e culpado.
Nietzsche privilegia a Grécia homérica, do tempo das epopéias e das tragédias, considerando-a o momento em que predominaram os verdadeiros valores aristocráticos, quando a virtude, residindo na força e na potência, era a virtude do guerreiro belo e bom, amado dos deuses.
Nesse sentido, o inimigo não é mau: “Em Homero, tanto o grego quanto o troiano são bons. Não passa por mau aquele que nos inflige algum dano, mas aquele que é desprezível”.
A moral de senhores é positiva, porque é baseada no “sim” á vida, e se configura sob o digno da plenitude, do acréscimo. Por isso essa moral está fundada na capacidade de criação, de invenção. E o resultado é a alegria, conseqüência da afirmação da potência. O homem que consegue superar-se é o super-homem (Ubermensch, expressão alemã que significa “além-do-homem”, “sobre-humano”, “que transpõe os limites do humano”).
Á moral aristocrática, moral de senhores, que é sadia e voltada para os instintos da vida, Nietsche contrapõe o pensamento socrático-platônico ( que provoca a ruptura entre o trágico e o racional) e a tradição da religião judaico-cristã. A moral que deriva daí é a moral de escravos, moral decadente porque baseada na tentativa de subjugação dos instintos pela razão. O homem-fera, animal de rapina, é transformado em animal doméstico ou cordeiro. Essa moral plebéia estabelece um sistema de juízos que considera o bem e o mal valores metafísicos transcendentes, Isto é, independentes da situação concreta vivida pelo homem.
A moral de escravos visa a negação de valores vitais e resulta na passividade, na procura da paz e do repouso. Isso inibe o homem, que se torna enfraquecido e diminuído em sua potência. A alegria é transformada em ódio á vida, o ódio dos impotentes. A conduta humana é marcada pelo ressentimento, pela má-consciência e pelo ideal ascético.
O ressentimento nasce na fraqueza e é nocivo ao fraco. Para o homem nobre, esquecer é uma das condições de manter-se saudável, pois sabe “digerir” suas experiências. O homem ressentido, incapaz de esquecer, é como o dispéptico: fica “envenenado” pela sua inveja e impotência de vingança.
A má-consciência ou sentimento de culpa é o ressentimento voltado contra si mesmo, daí fazendo nascer o pecado.
O ideal ascético nega a alegria da vida e coloca a mortificação como meio para alcançar uma outra vida num mundo superior, do além.
Assim, as práticas de altruísmo destroem o amor de si, domesticando os instintos e produzindo gerações de fracos.
“É por isso que contra o enfraquecimento do homem, contra a transformação de fortes e fracos - tema constante da reflexão nietzschiana - é necessário assumir uma perspectiva além do de bem e mal, isto é”,além da moral”. Mas, por outro lado, para além de bem e mal não significa para além de bom e mal. A dimensão das forças, dos instintos, da vontade de potência, permanece fundamental. “O que é bom? Tudo que intensifica no homem o sentimento de potência, à vontade de potência, a própria potência. O que é mau? Tudo que provém da fraqueza”.

O QUE É DETERMINISMO

O determinismo parte do princípio de que tudo que existe tem uma causa. O mundo explicado pelo determinismo é o mundo da necessidade, e não da liberdade. Necessário significa tudo aquilo que tem que ser e não pode deixar de ser. Nesse sentido, opõe-se ao conceito de contingência, que significa o que pode ser de um jeito ou de outro. Explicando: se aqueço uma barra de ferro, ela se dilata; essa dilatação é necessária, pois não pode deixar de ocorrer; ela ocorre inevitavelmente. Por outro lado, é contingente que neste momento minha roupa seja vermelha ou amarela.
Ora, se a ciência não partisse do pressuposto do determinismo, seria impossível estabelecer qualquer lei. A física, a química, a biologia se constituíram em ciências ao longo dos três últimos séculos procurando descobrir as relações constantes e necessárias entre os fenômenos.
Já no século XVIII, os materialistas franceses D´Holbac e La Mettrie reduzem os atos humanos a elos de uma cadeia causal universal. O físico Laplace resumiu assim esse determinismo: “um calculador divino, que conhecesse a velocidade e a posição de cada partícula do universo num dado momento, poderia predizer todo o curso futuro dos acontecimentos na infinidade do tempo”.
No século XIX, o positivismo, na ânsia de aplicar o mesmo método das ciências da natureza ás ciências humanas, estende a estas o determinismo e torna a escolha livre uma mera ilusão. Lembremos a teoria de Taine, que condiciona o homem ao meio, ao momento e á raça. Também a citação behaviorista de Watson é determinista e reflete, no século XX, a influência da visão positivista.


Sartre e o existencialismo

O existencialismo sofreu influências de Husserl, Heidegger, Jaspers e Max Scheler. Por meio deles chegou ás obras de Kierkegaard (1813-1855), filósofo dinamarquês que pela primeira vez lançou o grito de combate contra a filosofia especulativa, opondo-lhe a filosofia existencial. Nessa nova atitude, o filósofo de “carne e osso” se inclui a si mesmo no pensar, que até então se propunha objetivo e distanciado do vivido.
Jean-Paul Sartre (1905 -1980) escreveu a sua principal obra filosófica “O ser e o nada em 1943. Mas em 1938 já havia publicado o romance A náusea. Seu pensamento é muito conhecido e gerou, inclusive, uma “moda existencialista”, também pelo fato de Sartre ter se tornado um famoso romancista e teatrólogo. Sua produção intelectual foi fortemente marcada pela segunda Guerra Mundial e pela ocupação nazista da França. Podemos dizer que há um Sartre de antes da guerra e outro de pós-guerra, de tal forma o impacto da Resistência Francesa agiu sobre sua concepção política de engajamento. A noção de engajamento significa a necessidade de um determinado pensador estar voltado para a análise da situação concreta em que vive, tornando-se solidário nos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. Pelo engajamento, a liberdade deixa de ser apenas imaginária e passa a estar situada e comprometida na ação. Assim, ao escrever a peça de teatro As moscas, que versa sobre o tema do mito grego der Orestes e Electra, Sartre na verdade faz uma alegoria á ocupação alemã em Paris. Com essa obra, inaugura o chamado “teatro de situação”.
Ao lado de Simone de Beauvoir, também filósofa existencialista e sua companheira de toda a vida, Sartre participou da vida política não só da França mas mundial. Apesar de marxista, nunca deixou de criticar o autoritarismo, sobretudo quando as forças soviéticas invadiram a Thecoslováquia. Saía á rua em protestos e, com a impunidade que lhe conferia a sua figura de cidadão do mundo, vendia nas esquinas La Cause du Peuple (A causa do povo) jornal maoísta, sem que ninguém ousasse prendê-lo.
Sartre pertence á ala de filósofos existencialistas ateus, entre os quais se inclui Merleau-Ponty; na ala cristã, está Gabriel Marcel.


“A existência precede a essência”

“A existência precede a essência”. Eis a frase fundamental do existencialismo. Para melhor compreender o significado dela, é preciso rever o que quer dizer essência. A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é e não outra coisa. Por exemplo, a essência de um ama mesa, aquilo que faz com que ela seja mesa e não cadeira. Não importa que seja de madeira, fórmica ou vidro, que seja grande ou pequena; importa que tenha as características que nos permitam usá-la como mesa.
No famoso texto O existencialismo é um humanismo, Sartre usa como exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou um corta-papel; neles a essência precede a existência; da mesma forma, se imaginarmos um Deus criador, o identificamos a um artífice superior que cria o homem segundo um modelo, tal qual o artífice fabrica um corta-papel. Daí deriva a noção de que o homem tem uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens. Portanto, nessa concepção, a essência do homem precederia a existência. Não é essa, no entanto, a posição de Sartre ao afirmar que a existência precede a essência: “Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio como se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais o que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo”.






A liberdade e a angústia

Qual é a diferença entre o homem e as coisas? É que só o homem é livre. O homem nada mais é do que o seu projeto. A palavra pro-jeto significa, etimologicamente, “ser lançado adiante”, assim como sufixo ex da palavra existir significa “fora”. Ora, mas se as coisas são em “em-si”, o existir do homem é um “para-si”. O homem sendo consciente, é um “ser-para-si” porque a consciência é auto-reflexiva, porque pensa sobre si mesma, porque está “fora” de si. Veja aí, de novo, a noção de intencionalidade.
Mas o que ocorre ao homem quando se percebe um “para-si” aberto á possibilidade de construir ele próprio a sua existência e “condenado a ser livre”? Ele experimenta a angústia da escolha. Os valores não são dados ao homem, mas cabe a ele criá-los. É o próprio Sartre que relembra a frase de Dostoieski em Os irmãos Karamazov: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”. “Se Deus não existe então tudo é permitido”.
Se o homem é livre, é conseqüentemente responsável por tudo aquilo que escolhe e faz. A liberdade só possui significado na ação, na capacidade do homem de impor modificação no real.








Pastor Flávio Cezar